Fernanda
Era só mais uma noite.
Mais um vestido justo, salto alto, maquiagem afiada o bastante pra esconder a bagunça por dentro. A boate dele — Morro. Eu não devia estar ali. Mas o cliente queria, e eu precisava manter as aparências de que ainda era dona de mim.
Eu sabia que ele estaria lá. Guilherme. Sempre estava.
Entrei como se nada. Como se o coração não tivesse tropeçado no primeiro passo. O cliente do meu lado era rico, bonito, educado. E completamente irrelevante. Eu fingia ouvir, sorrir, beber. Mas meu olhar escorregava por cima do ombro dele, procurando só um rosto.
FernandaSumir por uns dias parecia simples.Desliguei o telefone. Bloqueei mensagens. Inventei uma viagem. Fiquei fora da boate, longe dos olhos dele, longe das mãos dele. Voltei a fazer programas discretos, com clientes antigos, em hotéis anônimos, como nos velhos tempos.Achei que poderia respirar.Mas mesmo no silêncio, sentia ele me rondando. Guilherme era presença mesmo ausente. Era voz que ecoava nos ossos, olhar tatuado nas costas. E quanto mais eu tentava esquecê-lo, mais o corpo lembrava.Na terceira noite, marquei com um cliente habitual. Um executivo sem graça, que pagava caro e falava pouco. Cheguei no hotel com o sorriso falso que eu já sabia usar. Entramos no elevador. Subimos.Mas não chegamos ao quarto.No corredor do 12º andar, antes da porta abrir, duas sombras surgiram. João.Me congelaram com o olhar.— Hora de voltar — disse JP, calmo demais.— Não tem volta nenhuma. Tô trabalhando — rebati.João segurou meu braço. Com força. Como quem segura algo que já é seu p
GuilhermeEla tentou fugir.Eu deixei.Três dias. Foi o tempo que me dei pra ver até onde iria. Como uma corda sendo esticada só pra provar que no fim… sempre arrebenta do lado mais fraco.Fernanda achou que era esperta. Que podia desligar o celular, sumir da boate, voltar a vender o corpo como se o meu nome já não estivesse cravado nele.Deixei correr. Mandei JP rastrear. João seguiu de longe. Bastou um cliente, um hotel qualquer, e já sabíamos onde ela estaria.Tirei ela de lá como se fosse lixo reciclado que tentava voltar pras ruas. E quando a joguei na parede da minha cobertura e fodi ela até quebrar, não foi só pelo sexo.Foi marcação. Foi aviso. Foi selar propriedade.Agora ela sabe.E eu também.Ela não pertence a mais ninguém. Nem a ela mesma.***Desde aquela noite, mudei as regras.Fernanda não dorme mais sozinha. Se não está comigo, tem segurança na porta. Se pisa fora da boate, é com minha autorização. E se algum outro homem ousa falar com ela — olho torto, comentário s
GuilhermeO problema de domar uma mulher selvagem é que ela nunca se entrega de uma vez. Sempre guarda um pedaço. Uma fresta de liberdade, um último sopro de resistência.Fernanda era assim.Mesmo com a rotina controlada, com o corpo rendido, com a vida sob a minha sombra, ela ainda tinha aquela faísca nos olhos. Como se quisesse lembrar a si mesma que podia correr. Que podia lutar.Eu sabia que isso não ia durar. Porque quando um animal aprende que a coleira aperta se tentar escapar, ele para de resistir.E eu já estava pronto para apertar.A ideia veio depois de uma noite longa na boate.Eu estava no escritório, assistindo as câmeras. Fernanda atendia as mesas com aquele sorriso que não mostrava os dentes — um meio termo entre indiferença e raiva.Um dos clientes tentou tocar a mão dela. Ela recuou rápido, firme. Ele insistiu. Antes que JP ou João chegassem para intervir, ela já tinha dado um tapa seco na mão do cara.Sorri de canto. Boa garota. Mas não era suficiente.Porque e
FernandaA primeira noite com a tatuagem foi como dormir com um segredo queimando na pele. O toque do travesseiro ardia, o cabelo roçava e me lembrava a cada segundo que, a partir de agora, eu não era só minha.Eu ainda não tinha visto o desenho, mas sentia. Guilherme tinha marcado o próprio nome na minha nuca, como quem sela um contrato sem direito a rescisão.Nos primeiros dias, andei pela boate com o cabelo solto, na tentativa desesperada de esconder a marca. Mas não adiantava. Os olhares me perseguiam. As conversas paravam quando eu passava. As outras meninas murmuravam entre si, trocando olhares de pena e inveja.— Você viu a Fernanda? — ouvi uma delas sussurrar. — Parece que agora é só do Guilherme.Não me virei, não discuti. Só continuei andando, os saltos ecoando pelo chão da boate, cada passo uma tentativa de provar a mim mesma que eu ainda era livre.Mas a verdade queimava na minha pele. Eu já não era.E então veio a Miriam.Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, ela viria
Guilherme Eu estava chegando em casa após uma noite intensa com uma morena incrível. Os momentos que passamos juntos ainda ecoavam em minha mente, mas eu precisava voltar à realidade. Assim que saí do carro, percebi dois jovens parados na portaria, claramente esperando por mim. Eu os reconheci de imediato - eram membros da minha equipe.Com um aceno casual, cumprimentei os rapazes e dei sinal para o porteiro liberar a entrada deles. Não havia necessidade de formalidades. Eles eram parte do meu círculo mais próximo, e eu confiava neles como confiava em mim mesmo.Subimos juntos no elevador, e durante o curto trajeto até meu apartamento, observei os olhares determinados nos rostos dos jovens. Eles tinham uma energia palpável, uma mistura de entusiasmo e respeito que eu sempre valorizava em meus homens. Era evidente que estavam prontos para o que quer que estivesse por vir.Ao chegarmos ao meu andar, a porta se abriu e entramos no apartamento. O ambiente luxuoso contrastava com a atmosf
GuilhermeDepois de expor minha decisão de expandir nossas vendas para uma boate, encarei JP e João, observando a confusão estampada em seus rostos. Era compreensível. Eles não esperavam essa reviravolta nos nossos planos, e eu entendia perfeitamente suas dúvidas.— Sim, é isso mesmo. — respondi, mantendo minha expressão séria. — Vou abrir uma boate, e será lá que vamos vender nosso produto.Os olhares de incredulidade dos jovens me atingiram, mas eu estava decidido a seguir adiante com minha ideia. Era arriscado, eu sabia, mas também era uma oportunidade única para expandirmos nossos negócios de uma forma completamente nova.— Mas você tem uma boate? — perguntou JP, ainda tentando processar a informação.— Não ainda. — admiti, — MAS vou abrir uma. E será a melhor boate da cidade.Expliquei-lhes minha visão para o empreendimento, detalhando os planos de transformar o local em um ponto de encontro exclusivo, onde a elite da cidade se reuniria para se divertir e, é claro, consumir noss
GuilhermeEnquanto eu caminhava pela boate, observando os clientes se divertindo e desfrutando da minha boate, meus olhos foram atraídos para uma mesa no segundo andar. Lá estava ela: uma bela morena, sentada sozinha, envolta em uma aura de mistério e elegância.Seus cabelos escuros caíam em cascata pelos ombros, destacando seus traços delicados e sua pele suave. Seus olhos, profundos e intensos, pareciam capturar a luz da boate, brilhando com um brilho sedutor que me deixou hipnotizado.Por um momento, parei no meu caminho, incapaz de desviar o olhar. Havia algo magnético nela, algo que me puxava para mais perto, me fazendo esquecer tudo ao meu redor. Era como se o tempo tivesse parado e só existíssemos nós dois naquele momento.Com um impulso irresistível, fui até ela, precisava falar com ela. Porém, na mesma hora, parei quando vi um homem de terno se aproximando da mesa onde ela estava sentada. Estava recuando daquela mesa, mas, quando estava saindo, ouvi uma voz.― Ei? Ei, não est
FernandaO telefone continuava a tocar, e cada toque parecia ecoar pelo meu pequeno apartamento, enchendo o espaço com um som irritante e insistente. Eu sabia quem era – Miriam. E sabia exatamente por que ela estava ligando. O jogador com quem eu deveria ter passado a noite não estava satisfeito, provavelmente já tinha reclamado, e agora Miriam queria uma explicação.Eu me sentei na beira da cama, olhando para o telefone que ainda vibrava na minha mão. Podia sentir meu coração acelerado, e minha mente estava correndo, tentando encontrar as palavras certas para explicar a situação. Miriam não era uma pessoa fácil de lidar, e eu sabia que qualquer deslize na minha explicação poderia me colocar em sérios problemas.Finalmente, respirei fundo e decidi atender. ― Alô?― Fernanda, onde você está? O que aconteceu? ― A voz de Miriam era cortante e impaciente, como eu já esperava.― Estou em casa, Miriam. Houve um problema, eu não consegui... ― comecei a falar, mas ela me interrompeu imediata