Fernanda
O mundo virou um clarão branco — neve e fumaça misturadas — e, por um segundo, não ouvi nada além do próprio coração batendo no crânio. O caminhão guinchou, engolindo o pátio num uivo metálico. Senti o cano da arma de Anya roçar minha pele. Não pensei. Girei o punho e cravei o parafuso ensanguentado no dorso da mão dela.
— Maldita! — ela cuspiu, recuando meio passo.
Foi o fôlego que eu precisava. Empurrei a arma para longe do meu pescoço. O disparo saiu torto, estilhaçando o farol do caminhão. Tudo virou sombras correndo. Vozes em russo, outra em português:
— Fernanda! — Guilherme, feroz, em algum lugar à esquerda.
Entre o clarão e o ruído, vi Lena sendo arrastada por um capanga. Sangue seco colava o cabelo na testa. Eu tinha duas escolhas: correr até Guilherme ou carregar Lena agora e perder o tempo que me separava dele. A resposta veio da parte de mim que aprendeu a sobreviver no morro: quem está sangrando primeiro.
— Vem comigo, Lena! — agarrei-a pela cintura.
— Eu não con