Guilherme
O pátio era um problema de cálculo em aberto: linhas, ângulos, sombras. A neve e a fumaça adulteravam as distâncias, mas o instinto corrigia o erro. Eu via vetores onde outros viam pânico. Cobertura, avanço, recuo. E, no meio, o objetivo: Fernanda.
— JP, contenção à esquerda. Mantém as luzes deles cegas.
— Ciente.
— Carlos, comigo no avanço. Dois e dois.
— Bora.
A carreta bloqueava metade do campo. O motorista ergueu o corpo, procurando alvo. Eu medi o arco como quem mede uma sentença: dois passos, joelho ao chão, tiro único. O estampido seco quebrou o vidro; o homem desabou sobre a buzina, e o som prolongado virou sirene grotesca. Melhor assim: barulho bom é o que assusta o inimigo.
— Corredor aberto! — gritei. — Empurra!
JP varreu o flanco com rajadas curtas, cortando os holofotes e obrigando os capangas a manterem a cabeça baixa. Eu e Carlos cravamos as botas no gelo e corremos colados à lataria do caminhão, usando cada ressalto como trincheira. O mundo estilhaçava em f