Fernanda
O ar nos túneis queimava como o sopro de uma fornalha. O metal suado devolvia a cada passo um eco gutural que parecia rugido de bicho preso. Eu apoiava Lena pelo ombro, sentindo o tremor dela passar para o meu corpo, como se nossas vértebras estivessem costuradas por um fio invisível.
— Respira curto — sussurrei. — No três, a gente avança. Um… dois… três.
Ela mordeu o lábio para não gemer. O braço esquerdo pendia, feio e inchado. Parei junto a uma coluna de inspeção, rasguei a barra da minha camisa com os dentes e arranquei, do cabeamento exposto, um pedaço de arame. Enrolei o tecido dobrado como tala, fixei com o arame, girando até ouvir o estalo seco de firmeza.
— Dói?
— Dói menos que ficar — ela murmurou, olhos marejados.
Beijei a testa dela por meio segundo, não por doçura, por pacto. O morro me ensinou assim: quem cuida vive; quem espera, morre. Os “sussurros de sobrevivência” da minha infância voltavam como rezas: pé leve, olho de chão, silêncio de gato. E outra voz, a