Carla encarava o relógio do restaurante como se pudesse controlar o tempo com a força do pensamento. Suas unhas batiam levemente na mesa de mármore, um ritmo nervoso que acompanhava a ansiedade crescente.
20h17.
O garçom passou pela primeira vez.
— A senhora gostaria de pedir algo enquanto espera?
— Um vinho bordô suave, por favor. E... ele deve chegar a qualquer momento.
21h03.
O vinho estava intocado. A taça suava no ar condicionado.
— Mais algum tempo,senhora?
— Sim,obrigada. Ele deve ter se atrasado no trânsito.
21h48.
As velas já haviam derretido pela metade.O restaurante estava quase vazio.
O garçom olhava com pena agora.
— Posso trazer algo para senhora?
— Não...não, obrigada. Vou pagar a conta.
Carla sentiu um nó na garganta ao levantar. As pernas tremiam levemente. Ela se segurou na cadeira por um momento, tentando recompor o fôlego.
"Você nunca é a primeira opção de ninguém, Carla."
A voz interior, que ela tanto combatia, soava mais alta que nunca.
Quando finalmente se virou