O lado de fora do galpão era um vácuo de sensações. O vento cortante parecia não tocar Carla. Ela estava plantada no chão de terra batida, o braço latejando onde a bala passara, mas a dor física era um ruído distante. Tudo o que existia eram os sons que vazavam pelas paredes de metal corroído.
Primeiro, o grito agudo e animal de Rafael após o som de um tiro. Depois, sons abafados, impactos surdos, o ruído de algo sendo arrastado. E gritos. Gritos que não eram mais de dor física, mas de um terror absoluto, primordial, como de um homem vendo o abismo abrir-se sob seus pés. Gritos que eram rapidamente cortados por baques secos, até se transformarem em um choro rouco e quebrado, e então… em nada.
Silêncio.
Um silêncio tão denso e pesado que parecia sufocar o próprio vento. Carla não conseguia respirar. Suas mãos tremiam violentamente. Leandro, ao seu lado, segurando Luna, mantinha o rosto impassível, mas seus olhos estavam fixos na porta do galpão, vigilantes.
A porta se abriu.
Matheus em