O galpão cheirava a óleo queimado, mofo e abandono. A única luz vinha de uma lanterna de acampamento posicionada no chão de concreto sujo, lançando sombras longas e dançantes nas paredes cobertas de pichações. No centro de um círculo de luz pálida, sentada em uma caixa de madeira vazia, estava Luna.
Ela tinha sete anos. Cabelos castanhos escuros, longos e um pouco embaraçados após a correria, caíam sobre os ombros de sua jaqueta rosa. Seus olhos, grandes e de um verde impressionantemente familiar ao de Matheus, não choravam. Estavam simplesmente abertos, fixos em Rafael com uma curiosidade silenciosa e assustada. Ela não gritava, não se debatia. Mantinha um ursinho de pelúcia desgastado apertado contra o peito, como um talismã.
Rafael a observava de alguns metros de distância, apoiado contra uma velha bancada de trabalho enferrujada. Ele não via uma vítima. Na paisagem distorcida de sua mente, apodrecida pela humilhação, pela queda e pelo ódio, ele via um ativo. Um bem de troca. Justi