O amanhecer sobre a mansão Moretti não trouxe consigo a promessa dourada de um novo começo, mas sim a luz pálida e cinzenta de um dia que precisava ser enfrentado. Ela deslizou por entre as frestas das cortinas de veludo pesado, teimosas guardiãs da privacidade de Ian, pintando o chão de mármore polido com listras de um dourado doentio e triste. A luz não aquecia; apenas iluminava a vastidão vazia do quarto, tornando-a mais opressiva.
Ian não havia testemunhado o nascer do sol. Para isso, seria preciso ter dormido. Seu corpo, um invólucro pesado de fadiga e tensão, apenas se rearrumara na imensidão da cama vazia ao longo de horas intermináveis, um prisioneiro de um turbilhão mental que ele, pela primeira vez em sua vida, não conseguia dominar ou mesmo nomear. Era uma agitação silenciosa e corrosiva, um ácido a corroer sua certeza de ferro.
O relógio vintage sobre a lareira marcava, com um tique-taque que soava como marteladas em seu crânio, sete e meia da manhã.
Silêncio.
Um silêncio