Saulo Prado
Eu me sentia bem.
Toda e qualquer preocupação parecia ter passado. Os Prados estavam me requisitando. Quem sempre me desprezou, agora precisava de mim. Cheguei cedo à empresa, vendo a movimentação habitual: profissionais apressados, celulares nos ouvidos, pastas nas mãos... e aquele elevador sempre disputado como se fosse o último refúgio de paz antes do caos do dia.
Subi sozinho pela escada, degrau a degrau. O corredor ainda silencioso. E, ao abrir a porta do escritório, dei de cara com ela.
Angelina.
Saía da sala, rumo à sua bancada. Aquela saia verde-oliva colada nos quadris me acertou em cheio na memória.
Ela estava usando exatamente a mesma peça do dia em que a conheci. A blusa branca, bem passada, o cabelo preso num rabo de cavalo dividido ao meio. E mesmo cansada, com olheiras visíveis, ainda era o tipo de mulher que fazia tudo em volta parecer desacertado. Como se o mundo não estivesse no mesmo ritmo que ela.
— Bom dia, doutor — disse com um sorriso forçado ao me n