Angelina Garcia
Débora chorou. Falou. E eu apenas ouvi.
Foi diferente de quando eu estava naquele mesmo sofá, aos prantos, tentando entender como um homem com quem dividi quase trinta anos de vida podia simplesmente me trocar por uma mais nova. Uma que vivia jogando a bunda pro alto, com a casa sempre cheia de amigos, música alta e risos forçados.
Quando Débora despejou sua dor em mim, Saulo já havia ido embora fazia tempo. A babá ligava — Heitor precisava mamar — e ela se foi. Tudo seguiu normalmente no escritório. Como se a dor fosse apenas um detalhe de bastidor.
Peguei minha bolsa para partir. Mas travei no elevador. A ideia de voltar para casa me asfixiava.
Eu precisava mais do que tudo, me sentir Angelina de novo. Me reconectar com aquela mulher que um dia existiu antes da maternidade, do casamento, da submissão, mas eu era apenas uma menina, somente uma menina. Não estava sendo fácil. Era quase impossível me encontrar entre os escombros de uma vida em ruínas.
Voltei e sentei a