Angelina Ribeiro
Minha condição de mãe dos filhos do juiz me impedia de exercer a advocacia na cidade. Viajar todos os dias para outra comarca com duas crianças pequenas era impossível. Restaram poucas alternativas. O emprego na mineradora, conseguido por Ribeiro, foi uma delas. Tenho certeza de que nem chegaram a olhar meu currículo. Ali, eu não era "Doutora Angelina". Eu era apenas "a esposa do procurador".
E ainda assim, estava claro: aquele não era um ambiente saudável para trabalhar. Aos cinquenta e dois anos, nunca me senti tão viva. A idade não me limitava; a cada dia eu me tornava mais forte, mais consciente, mais dona de mim.
Mal pisei na sala dos advogados e já encontrei uma pilha de processos acumulados sobre a mesa. Nesse instante, Saulo se aproximou. Encostou os lábios na minha testa, sob o olhar duro de Adson. Beijou nosso filho, mesmo quando o menino desviou o rosto, e em seguida afagou os cabelos de Atlas, que dormia pesado.
- Pensa direitinho no que conversamos, tá? -