Narrado por Violeta
A primeira vez, achei que era coincidência.
Um homem de jaqueta preta, parado na esquina da farmácia, fingindo mexer no celular.
Na segunda, senti um arrepio.
O mesmo homem, agora parado em frente à padaria, me observando disfarçadamente pelo reflexo do vidro de um carro.
Na terceira, meu corpo congelou.
Eu não estava mais sozinha.
Peguei os remédios da minha mãe e saí com o coração disparado.
Olhei pra trás com naturalidade, ou pelo menos tentei e lá estava ele.
Mesma roupa. Mesmo olhar vazio.
Seguindo meus passos a uma distância controlada.
Apressada, dobrei uma rua, depois outra. Me embrenhei entre becos estreitos, tentando despistar. Me escondi atrás de uma pilha de caixas de papelão.
Ele passou.
Devagar.
O olhar varrendo cada canto.
Como se soubesse que eu ainda estava por ali.
Esperei meu corpo parar de tremer pra pegar o celular.
Os dedos mal conseguiam digitar. Mas eu sabia o número decorado.
Violeta: — Atende… por favor, atende…
Apolo: — Violeta?
— Apolo!