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Capítulo 4

O apartamento seguro tinha cheiro de álcool e pólvora. O silêncio entre os três era pesado, interrompido apenas pelos suspiros de dor e o rangido das roupas sendo retiradas.

Milena jogou a jaqueta no sofá e puxou a blusa manchada de sangue. Juliana fez o mesmo, revelando um arranhão profundo no ombro. A visão fez Jonatas engolir seco. Ele tentou não olhar, desviando para qualquer coisa ao redor — a parede, o chão, até a garrafa de whisky abandonada na mesa.

— Fiquem quietas, eu cuido disso. — disse, tentando disfarçar o desconforto com uma voz firme.

Juliana riu de leve, apesar da dor, percebendo a tentativa dele de não encarar diretamente sua pele exposta.

— Relaxa, Jonatas. Não é a primeira vez que você me vê machucada.

Ele limpou o ferimento com álcool, os dedos precisos, evitando qualquer contato desnecessário. Milena observava de canto, um meio sorriso nos lábios diante da tensão silenciosa entre os dois.

Depois de cuidarem dos machucados, cada um se preparou para descansar. O cansaço da noite caía como uma pedra, mas todos sabiam que aquilo era apenas uma pausa, nunca o fim.

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Enquanto isso, em um escritório luxuoso em Nápoles, o Don da máfia italiana esmagava um copo de cristal contra a parede.

— INÚTEIS! — rugiu, a voz ecoando pelas paredes de mármore. — Alguém matou meu homem de confiança dentro daquela boate e vocês não sabem QUEM?!

Os capangas abaixaram a cabeça, temerosos. O Don respirava pesado, os olhos vermelhos de raiva.

— Quero respostas. Não me importa como, mas descubram quem ousou me desafiar.

A sala mergulhou em silêncio, quebrado apenas pelo toque estridente do telefone sobre sua mesa. Ele atendeu, ainda fervendo de ódio.

— Alô?

Do outro lado da linha, a voz grave de seu pai soou fria, cortante:

— Chega de distrações. Está na hora de escolher uma noiva. O império precisa de continuidade, e você não pode perder tempo com capangas mortos.

O Don cerrou os punhos, controlando a fúria.

— Eu cuidarei disso, pai. Mas primeiro… vou descobrir quem ousou me provocar. E quando eu descobrir, essa cidade inteira vai tremer.

O Don ainda tentava controlar a fúria da ligação do pai quando um de seus homens entrou apressado no escritório.

— Chefe, recebemos a notícia… o carregamento chegou. Mas dizem que há movimento estranho na doca. Talvez seja bom o senhor ir ver de perto.

O Don estreitou os olhos. A paranoia corria quente em suas veias desde a morte de seu capanga.

— Se for uma armadilha, eu quero ser o primeiro a descobrir quem está por trás disso. Preparem os carros.

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A noite estava úmida no porto. O cheiro de maresia se misturava ao de óleo e ferrugem. Caminhões alinhados carregavam os caixotes com a droga, mas o silêncio dos estivadores parecia… errado.

— Algo não cheira bem. — murmurou o Don, enquanto avançava, pistola na mão.

De repente, o assobio cortou o ar. Um estalo seco, depois outro. Os disparos ecoaram.

— Emboscada! — gritou um dos capangas.

O Don reagiu rápido, atirando contra a escuridão, mas não foi rápido o suficiente. Um projétil atravessou sua perna, a dor lancinante o fez cambalear.

— Merda! — rosnou, apoiando-se no carro mais próximo.

Seus homens puxaram-no para trás, formando um escudo de balas enquanto respondiam ao fogo inimigo. As luzes dos postes piscavam, sombras se moviam por entre os contêineres, como fantasmas prontos para terminar o serviço.

s tiros cessaram após longos minutos de caos. O Don foi arrastado pelos homens de confiança até o carro blindado. O sangue escorria em ondas pela calça de alfaiataria, e o rosto endurecido pela dor não deixava espaço para fraqueza.

— Levem-me para a clínica do submundo. Agora. — ordenou com a voz grave, abafando um gemido.

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Na clínica, Juliana acabava de retirar as luvas manchadas de sangue de mais um paciente quando a porta da sala de emergência se abriu com violência. Dois homens enormes entraram, carregando um corpo entre eles.

— Precisamos de ajuda! Agora! — gritou um deles.

Juliana e Milena trocaram um olhar rápido. Não era qualquer paciente. O homem no centro, mesmo pálido pela perda de sangue, exalava autoridade, perigo e ódio. O Don.

Jonatas foi o primeiro a se pronunciar, fingindo calma:

— Coloquem-no na maca.

Juliana respirou fundo, engolindo a tensão que subia pela garganta. Seus olhos se fixaram no ferimento da perna — o projétil ainda estava alojado.

— Se não retirarmos a bala, ele vai perder muito sangue. Segurem firme. — ordenou, já colocando as luvas novamente.

O Don abriu os olhos, encarando Juliana com intensidade. A dor não o impedia de falar:

— Você… vai me salvar. Ou vai morrer junto comigo.

Juliana ergueu o queixo, desafiadora, mesmo com o coração acelerado.

— Fique quieto, ou eu deixo você sangrar até a morte. — respondeu com frieza, aproximando o bisturi.

O silêncio da sala pesou. Os capangas se entreolharam, surpresos pela ousadia da médica. E, pela primeira vez em muito tempos.

A cirurgia foi longa, mas Juliana conseguiu retirar o projétil e conter a hemorragia. O Don foi levado para um dos quartos privados da clínica, ainda sob efeito da anestesia.

Horas depois, o som suave do monitor cardíaco preenchia o silêncio. Juliana entrou no quarto com passos leves, uma prancheta em mãos e a bandeja de medicamentos na outra. Aproximou-se da cama, conferiu o soro e se preparava para aplicar a medicação quando sentiu um aperto firme em seu pulso.

Os olhos dele se abriram de repente, intensos, cheios de fúria e desconfiança.

— Qual o seu nome? — a voz dele era rouca, mas carregada de autoridade.

Juliana não recuou. Seus olhos se encontraram com os dele, e por um instante pareceu que o ar ficou mais pesado na sala.

— Juliana. — respondeu, simples e firme.

Ele a observou por longos segundos, como se gravasse cada traço de seu rosto. Um sorriso quase imperceptível surgiu no canto dos lábios dele.

— Juliana… — repetiu devagar, como provando o som do nome. — Você tem coragem. Poucos falam comigo desse jeito e continuam vivos.

Ela soltou o braço com um movimento brusco, ajeitando a bandeja e mantendo a postura profissional.

— Não estou aqui para massagear seu ego. Estou aqui para impedir que sua perna apodreça. Então, se quiser viver, colabore.

O Don riu baixo, mesmo com a dor.

— Gostei de você.

Juliana suspirou, revirando os olhos,

Juliana terminou de anotar as últimas observações no prontuário e saiu do quarto

— Quero todas as informações sobre ela. Nome completo, endereço, família, passado… tudo. — a voz do Don soou baixa, mas carregada de decisão.

O secretário o encarou com cautela.

— Está interessado na médica?

O Don sorriu, mesmo ainda pálido pela perda de sangue.

— Interesse é pouco. Essa mulher apareceu no momento certo.

O secretário arqueou a sobrancelha, intrigado.

— No momento certo para quê?

— Meu pai insiste que eu escolha uma noiva. Nenhuma das opções que me foram apresentadas me agrada… todas são bonecas sem alma. Mas aquela médica… — ele deixou escapar um riso rouco, lembrando do olhar firme dela. — Ela é diferente. Tem coragem, sangue quente… e já está dentro do meu mundo sem nem perceber.

O secretário hesitou.

— E se ela não aceitar esse papel?

O Don virou o rosto, o olhar frio e calculista.

— Então eu vou fazer ela aceitar. A noiva falsa que meu pai tanto cobra… eu já encontrei.

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