A madeira do relógio de pêndulo era escura e imponente, uma sentinela silenciosa encostada na parede mais sombria da biblioteca do avô. Não era um relógio qualquer; era uma peça de museu, intrincada, com gravuras de lobos e raposas correndo em uma floresta estilizada ao redor do mostrador de números romanos. O pêndulo, um disco de latão pesado e polido, estava imóvel. Parado no tempo. Como eu.
O manual aberto no chão ao meu lado era um emaranhado de linhas e instruções que pareciam mais uma fórmula alquímica do que uma orientação para consertar um mecanismo. Eu já havia limpado as engrenagens, verificado a mola mestra, ajustado o escapamento. Tudo funcionava perfeitamente. O tic-tac, quando eu o colocava em movimento, era metronômico, hipnótico. Mas era só isso. Um som vazio.
O segredo não estava no movimento. Estava no som.
O manual, na sua página final, era vago e poético, escrito por uma mente que via beleza na obscurid