O quarto cheirava a naftalina e flores murchas. Um santuário preservado em âmbar e poeira. E no centro, pendurado na frente do espelho empoeirado da minha mãe, estava um vestido.
O vestido era de um preto tão profundo que engolia a luz, mas que, ao menor movimento, cintilava em rubi e violeta das jóias escondidas na trama do tecido. O corpete era justo, costurado em cetim, cravejado com minúsculas contas de ônix que formavam a silhueta de raposas em fuga da cintura até o busto. As mangas eram longas e translúcidas, feitas de uma renda estampada com um padrão de galhos de espinheiro, que se apertavam nos pulsos como garras. Mas a peça central era a saia. Uma explosão de tule e seda que caía em cascata, pesada e implacável. Entre as camadas de tecido, fios de prata finíssimos foram bordados, lembrando teias de aranha sob a lua. Era um vestido para matar. Literalmente. A última criação da minha mãe antes de Dante a trancar neste mesmo quarto e apagar sua l