O cheiro da comida ainda pairava no ar. A casa tinha um silêncio vivo, quebrado apenas pelo arrastar de pratos sobre a toalha clara que eu estendia sobre a mesa. O pano, ainda um pouco amarrotado, trazia manchas antigas que o tempo não conseguira apagar, como cicatrizes sutis de tantos outros jantares — alguns felizes, outros carregados de discussões.
Leo ajeitava os talheres com cuidado, cada faca alinhada como se fosse parte de um ritual. Eu trazia as panelas, tampas ainda liberando pequenas nuvens de vapor, e o calor envolvia meus braços enquanto colocava cada uma no lugar. O gesto simples de servir a comida sempre me lembrava de que, aqui dentro, havia uma chance de normalidade. Um teatro caseiro que tentava abafar os ecos de sangue que vinham do lado de fora.Fiquei surpresa quando Silas chegou. Passou pela porta sem pressa, como se não tivesse perseguido Leo com um facão horas antes. O casaco verde-escuro, com gola de pelo, caiu pesado na cadeira quando ele s