A luz da manhã filtrou-se pelas frestas das cortinas grossas, listras de ouro pousadas sobre o caos silencioso do meu quarto. A primeira sensação foi o peso do braço de Leo sobre minha cintura, firme, possessivo mesmo no sono. A segunda foi a dor agradável nos músculos, um eco profundo e inegável da noite anterior. Um tremor percorreu-me, metade memória do êxtase imposto, metade frio do ar matinal. Tinha dormido pouco, atormentada pela culpa e por uma posse recém-descoberta que me assustava e exaltava em igual medida.
Deslizei para fora da cama sem acordá-lo. Ele resmungou, virando-se para o lado vazio, buscando meu calor. “Meu.” A palavra queimava doce e perigosa. Olhei-o, vulnerável, e o medo de não conseguir soltá-lo apertou meu peito.A sala de jantar já não tinha rastros do caos. Na madrugada, enquanto ele dormia, limpei tudo: restos de comida, vinho seco como sangue velho, e outras... marcas, apagadas. Agora havia apenas cheiro de desinfetante e o vazio calcu