O chalé estava silencioso demais depois que Lucas se foi. O som do motor da moto ainda ecoava em algum canto da minha mente, misturado com a imagem de Zeca parado ali, com aquele olhar que me atravessava como faca quente em manteiga.
Fechei a porta com cuidado, larguei os tênis ao lado do tapete da entrada e fui direto para a cozinha. Peguei um copo d’água como quem procura alguma âncora no mundo físico. Não funcionou.
Tudo estava quieto, e eu odiava esse tipo de silêncio — aquele que não era paz, era ausência. Ausência de resposta, de entendimento, de controle.
Subi para o quarto com a cabeça fervendo. O caderno continuava aberto sobre a escrivaninha, a caneta largada entre as páginas como se tivesse sido esquecida no meio de um suspiro.
Sentei na cadeira e encarei as palavras que havia escrito na noite anterior. Uma cena curta, um diálogo simples, mas era algo. Era minha voz ali, mesmo trêmula, tentando se erguer de novo.
Peguei a caneta.
Tentei continuar.
Mas as palavras fugiam.
Tu