Na escuridão da noite, os segredos são comprados e vendidos como mercadorias, e eu sou o comprador mais implacável de todos. A mulher que eu comprei por uma noite, por um ano, por uma vida, tinha olhos que brilhavam como estrelas na escuridão, e uma boca que sussurrava segredos que eu estava desesperado para ouvir. Mas havia algo mais, algo que ela escondia atrás de seu sorriso inocente. Algo que eu estava determinado a descobrir. Mentiras que poderiam destruir tudo o que eu pensava saber sobre o amor, a lealdade e a traição. O passado dela era marcado por mágoas e traições, e eu estava prestes a me tornar o seu maior pesadelo, e ela o meu.
Ler maisDominic Lexington
A música no salão não passava de uma maldita distração. Eu cumprimentei dois homens mal-encarados quando entrei, e de alguma maneira, eles sorriram assim que puseram os olhos sobre mim. Talvez, o fato de estar entre os vinte homens mais ricos do mundo fosse o segredo. Parei diante de um palco, com uma extensão de passarela montada. Aquilo não era o tipo de coisa que eu costumava concordar, mas estava de saco cheio da monotonia que tenho passado desde que a minha noiva. Não, ex noiva... Enfim, eu não pretendo pensar naquela filha da mãe agora.
Um homem anunciou que o leilão começaria em apenas cinco minutos, e todas as pessoas procuraram seus respectivos lugares a partir daquele momento. Não se enganem. Não havia mulheres nesse lugar, exceto, as que entrariam no palco, e elas, bom... elas seriam a mercadoria.
Procurei por uma cadeira e me sentei na primeira fileira. A placa estava bem ao meu lado, e eu não tinha qualquer intenção de levantá-la esta noite. Meus pensamentos estavam começando a me deixar irritado. Eu vim até esse lugar para me distrair, e a maldita Ketty continuava atormentando a minha mente. Ela era justamente o motivo para eu me sentir assim agora, e essa era a maior ironia, considerando tudo que ela fez.
– Estimados senhores... – Um homem anunciou. O terno caro que ele vestia era sob medida, e isso já era um indício de que os valores para elas seriam astronômicos. – Brasileira! Dezoito anos. Ela desfila e sabe a dança dos sete véus. O lance inicial é de vinte mil dólares, cavalheiros... – Ele gesticulou com as mãos, e ela deu alguns passos a frente.
Eu conseguia notar que ela estava assustada. Talvez não quisesse estar naquele palco. Eu me perguntei se alguém a obrigou. Será que o dinheiro iria para ela? O ambiente em que eu estava, definitivamente, não era ortodoxo. Os homens com quem eu fazia negócios eram, digamos, que, criminosos. Isso, no entanto, não me tornava um lunático que obriga mulheres.
– Um charuto, senhor? – O garçom me ofereceu, ao descer sua bandeja sob o meu campo de visão.
Acenei com a cabeça. Aceitei um. Essa droga toda está começando a me aborrecer ainda mais. Acendi o charuto e continuei assistindo. Ela desfilava como se as pernas trêmulas fossem se soltar e seguir o caminho sozinhas. Isso quase me fez rir. Aquele salto inadequado que ela usava, e a roupa... ah, ela definitivamente não escolheu algo que lhe caiu bem, ou talvez fossem as curvas um pouco quadradas.
Os valores foram lançados, até que ele finalmente bateu o martelo, fazendo a mulher sorrir amigavelmente para o idoso, que, provavelmente, beirava os setenta anos, e havia acabado de comprá-la por cerca de cem mil dólares.
– Você por aqui, Dom... – Um homem indagou. Eu não tinha que olhar para saber de quem se tratava, mas já estava aborrecido. – Sempre pagou de certinho. O que foi? Se cansou da minha irmã?
Fechei os meus punhos com força. Eu deveria socar a cara dele. Droga! Eu deveria mesmo, mas não fiz. Eu apenas continuei olhando as mulheres que entravam. Eram lindas, eu tinha que admitir. Mas, elas sempre tinham o mesmo padrão. Altas, magras. Pareciam modelos, e isso talvez fosse bom, se ainda fosse o meu tipo de mulher. Para falar a verdade, eu estava cansado delas. Lindas, mas sem cérebros. Corpos perfeitos, e vazios, e uma voz irritante. Irritante pra caralho. Por deus, o que havia de errado naquelas vozes?
– O que faz aqui? – Perguntei, e meus olhos o atingiram em cheio.
– O que você faz aqui? – Ele me encarou, devolvendo a maldita pergunta difícil. Eu podia sentir os olhos dele me queimando. E tanto faz... Eu não me importo. – Sempre foi tão correto.
– Era correto quando estava comprometido. Não tenho por que ser fiel a alguém agora.
– Você sabe que vão acabar voltando.
– Nem ferrando! – Praguejei. E era a verdade.
Troy me encarou. Eu consegui notar que ele estava prestes a dizer algo, mas, o rosto dele mudou. Ele fixou em algum lugar. Todos estavam olhando para um elo comum. Eu não fazia ideia de quem estava no palco agora, mas eu nunca senti esse lugar tão silencioso.
Meus olhos se movem. Eu sei. Eu não quero nada desse lugar. Eu nem tinha a intenção de levantar a maldita placa, mas eu a vi, e automaticamente segurei o grande ‘SIM’ no meu colo. Aquela mulher era... Porra, ela era incrível.
– Direto do país com a maior quantidade de vencedoras do miss universo, Venezuela! – Ele soltou a mão dela, e permitiu que ela desfilasse. – Vinte e um anos, dança balé. E a surpresa da noite, senhores. Ela é virgem. Uma prenda rara!
Eu ouvi um burburinho atrás de mim, e não me importei com eles. Eu tenho todo dinheiro do mundo, e vou usá-lo para ter essa mulher. A mulher que é minha e sempre será.
Ela, talvez não tenha mais que um e setenta de altura, o que me faz pensar em como ela me beijaria com um e noventa e oito de altura. Aquele cabelo preto completamente liso e cheio me fazia querer levantar e encher minhas mãos pelos fios grossos. O vestido de seda dela esvoaçava, e quando ela passou por mim, eu inalei aquele perfume. Deus. Eu preciso disso. Estava a ponto de enlouquecer, esperando o desgraçado dar um preço.
Os olhos castanhos claros dela me alcançaram. Por alguma razão, ela sorriu brevemente, enquanto voltava ao seu lugar. Só assim eu pude ver como a fenda do vestido descia até quase a bunda grande. Revelador demais, e, ao mesmo tempo, instigante, porque todos nós queríamos mais. Muito mais. E porra, ela não mostrava o suficiente.
Nossos olhos se encontraram, e ela, desconfortável, manteve-se olhando para frente. Se ela era virgem, eu precisava comprovar. Não parecia. De todas, ela era a de maior atitude, e nenhum pouco de pudor. Ainda assim, valia arriscar o dinheiro.
– Os lances iniciais são de cento e cinquenta mil dólares.
Eu não me movi, mas os homens... Placas e mais placas. Quanto mais o valor subia, mais fácil se tornou a minha decisão.
Dominic Lexington CavalieriO sol da Toscana caía pesado sobre o jardim da casa. A mesa longa estava posta com vinho, frutas, queijos e pão, mas, na prática, parecia um acampamento improvisado. Crianças corriam por todos os lados, soldados tentavam bancar garçons e Cesare já gritava em italiano porque Carlo tinha decidido subir na cadeira dele.— Per l’amor di Dio! — Cesare afastou o menino, mas Carlo riu, mostrando todos os dentes.Não eram muitos. — Não fui eu! Foi o cachorro! — respondeu, apontando para o pastor alemão.Baby, com a bebê no colo, revirou os olhos. — Carlo, desça já dessa cadeira, antes que seu tio enfarte.— Já enfartei só de olhar! — Cesare resmungou, enxugando a testa com um guardanapo. Sua esposa, Serena, tomou o copo da mão dele e encheu de água. — Uma família de selvagens…— Cala a boca, Cesare — murmurei, servindo-me de vinho. — Você também correu pelado nesse jardim quando tinha a idade dele.Ele me lançou um olhar mortal, mas não respondeu, o que só arranco
Dominic Lexington CavalieriEu tinha acabado de deixar o quarto de Baby quando ouvi um choro diferente. Não era da minha filha, eu já sabia reconhecer, mas o instinto me fez seguir o som pelo corredor mesmo assim. O berçário ficava a poucos metros dali.O vidro estava entreaberto, e no reflexo vi a silhueta que não deveria estar ali.Kattyúcia.Porque eu não estava surpreso?O mundo tem uma mania desgraçada de me testar sempre quando eu acho que já suportei o suficiente. A vadia conseguiu entrar, e no colo dela estava minha filha.Abri a porta devagar, sem pressa, porque pressa era para quem tinha medo.Ela virou o rosto e sorriu. — Que surpresa, Dominic. Parece que a gente se encontra sempre em momentos decisivos.Meu olhar foi direto para o rosto da bebê. Vermelha, desconfortável, mas viva. Respirei fundo.— Coloque-a no berço, Kattyúcia.Ela riu baixo, embalando minha filha de um jeito desajeitado, como quem segurava uma boneca. — Não tão rápido. — Deu um passo para trás, o berço ao
Dominic Lexington CavalieriUma enfermeira chamou meu nome no corredor. Pela primeira vez naquela noite, senti o corpo ceder, como se a tensão tivesse segurado meus músculos até o limite. Segui os passos dela sem discutir, o coração batendo forte, mas não era medo, era urgência.Empurrei a porta do quarto e o ar pareceu mudar. Baby estava deitada, pálida, cansada, mas com aquele olhar que sempre me fazia voltar para casa, não importava de onde eu viesse. E no colo dela, enrolada em um pano branco, estava minha filha.O barulho do hospital, as vozes, as sirenes que ecoavam lá fora... tudo se dissolveu. Aproximei-me devagar, como se não quisesse quebrar a cena. Baby ergueu o olhar e sorriu fraco.— Dom… ela é linda.Engoli seco. Sentei na beira da cama e passei a mão pela testa dela, afastando os fios grudados de suor. Depois, deixei os olhos caírem para o rosto miúdo da bebê, a boca se mexendo como se buscasse alguma coisa.— É perfeita. — Minha voz saiu baixa, rouca.Baby segurou minh
Dominic Lexington CavalieriO carro seguia rápido pela avenida ainda fechada pela polícia. O som distante das sirenes me irritava, não pelo barulho, mas porque significava que a situação ainda estava fora do meu controle. Eu estava no meio de uma conversa com Dário sobre os envolvidos no atentado quando o telefone dele tocou. Ele atendeu, ouviu por poucos segundos e me olhou pelo retrovisor.— É a Baby. Entrou em trabalho de parto.O resto da conversa morreu ali.— Mude a rota. Para o hospital, agora.Dário nem respondeu. Virou o volante e acelerou.Arranquei a merda de colete e armas, antes de entrar no hospital, sem me importar com o sangue exposto na minha roupa. Eu sabia que poderia causar problemas, mas, naquele momento, nada estava a cima dela!Olhei para o lado. Baby estava no banco, uma mão firme na barriga, a outra apoiada na lateral da porta. A respiração era profunda, medida. Não estava em pânico.— Não era para ser hoje — falei, mais para mim mesmo do que para ela.Ela res
Dominic Lexington Cavalieri— Não acredito, porra. Você não vai sem mim!Arqueei a sobrancelha. Mas que merda ele estava fazendo aqui? — Vá para a maldita viagem. Você tem a porra de um jato particular a espera, e uma mulher na sua cama. O que quer numa guerra?Dilan se debruçou sobre a janela aberta do carro, sem se importar que meu fuzil estivesse apontando diretamente para seu rosto.Se disparasse, não sobraria nada a ser reconhecido pela viúva. — Disse, bem: Jato particular. Ele pode voar quando eu quiser. Mas essa guerra... porra, quando vamos ter algo assim novamente?O infeliz tinha razão. Fiz um ótimo papel em manter a paz, acima de qualquer coisa, e isso nos fez lucrar como nunca.Acenei, mesmo que por dentro algo gritasse para dizer que não.Porra, por que eu não neguei essa merda a tempo? Dilan se acomodou, resgatando a arma no chão do carro e nos colocamos em movimento, enquanto o infeliz vestia o colete.A noite ainda cheirava a pólvora quando saí da minha casa, deixand
Dominic Lexington CavalieriQue tipo de conselheiro de merda eu seria se não impedisse aniquilação do meu sangue, porra? Mas eles ainda iriam aprender a lidar comigo, mais cedo ou mais tarde.O salão estava bem decorado, e eu tive que admitir para mim mesmo que era bom nessa merda, ainda que jamais fosse admitir que havia cuidado dos detalhes. Eu sabia que o casamento era importante para a Baby, e embora eu não me importasse com a infeliz se casando, queria garantir que meu soldado estivesse feliz. Dilan sempre foi um bom amigo. Leal. E eu valorizo qualidades como as dele a cima de tudo, mesmo que as escolhas sejam duvidosas.Tudo naquele cenário, no entanto, fora pensado para evitar qualquer tragedia que pudesse acontecer. Ao contrário dos meus inimigos, eu não costumava subestimar um adversário, por mais obvio que ele pudesse parecer.Talvez, por fora, eu fosse um homem rico, qualquer vestido de terno preto para padrinho que minha mulher escolheu, usando a porra de uma gravata que r
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