Narrado por Leonid Raskolnikov
Ela deslizou sobre o gelo como quem flutua entre mundos — um deles sendo o meu, onde o amor se disfarça de proteção, e o outro, o dela, onde o medo ainda sussurra em cada curva da alma.
Fiquei ali, imóvel, observando-a dançar como se o frio não tocasse sua pele. Como se não houvesse dor alguma sob aquela superfície branca. Mas eu sabia. Ah, como eu sabia… que até mesmo a leveza dela era uma forma de resistência.
Zalea era feita de sombras e brilhos.
Uma lâmina disfarçada em corpo de bailarina.
E ao vê-la girar sob o céu de Moscou, com as luzes do entardecer refletindo no gelo recém-assentado, entendi que aquele era o momento que eu havia preparado com tanta precisão… não para possuí-la, mas para lembrar a mim mesmo que ainda havia algo puro que valia a pena proteger, nem que fosse à força.
Ela parou e me encarou.
Seus olhos ardiam em tons de crepúsculo.
— Então, Don… gostou?
Assenti devagar, aproximando-me com passos firmes. O som do couro dos meus sapa