Narrado por Dione Baranov
Ela me olhou com os olhos apertados, como quem tenta decifrar uma ameaça disfarçada de salvação. O nome Leonid Raskolnikov pairou no ar como uma lâmina suspensa, afiada pelo tempo, pelo sangue e pelo silêncio das promessas não ditas. Eu vi o temor nos olhos de Zalea — um temor legítimo, pois Leonid não era homem de mitos; era lenda viva, feita de aço e sombras. E lendas, quando tocam a carne, deixam marcas.
— Por mim, — eu disse, minha voz um sussurro antigo, carregado com o peso de gerações. — Pelo nome da minha mãe. Pela dívida silenciosa que ele carrega com a nossa linhagem. Pelo que restou da honra.
Ela engoliu em seco. Os olhos marejados cintilaram sob a luz fraca como vidro trincado prestes a ceder. Eu me inclinei, toquei seu rosto como quem toca um altar antigo e quebrado. Minha mão era firme, mas não fria. Havia ternura ali, mas também um presságio.
— Ao lado dele, você nunca mais precisará temer. — murmurei. — Não o escuro. Não o armário. Nem mesmo o