Narrado por Dione Baranov
Havia algo de melancólico em ver Zalea tão quieta, encolhida na penumbra da sala como um segredo não revelado. A luz rarefeita projetava sua silhueta sobre as paredes, um vulto de incerteza e fragilidade, como se o próprio tempo hesitasse em tocá-la. Ela parecia feita de vidro naquela noite — rachada, prestes a se partir, mas ainda sustentando a forma com um orgulho que apenas as mulheres condenadas à obediência conhecem.
Talvez por isso eu a entendesse tanto. Porque eu também fui feita de vidro um dia.
Fui vendida sob o nome de esposa, como uma rosa presa entre os dentes de um predador elegante. Aos trinta e dois anos, já não chorava por isso. Aprendi a sobreviver dentro das jaulas douradas do casamento, onde o amor era um luxo morto, e o afeto, uma moeda que ninguém mais queria trocar. Meu destino foi selado antes que eu pudesse escolher. A diferença era que Zalea ainda tinha uma escolha.
E por mais que ela acreditasse que tudo estivesse perdido, eu via, po