Narrado por Leonid Raskolnikov
Sentei-me em minha cadeira de couro negro, onde o tempo parece sempre pesar mais.
A madeira polida da mesa de mogno refletia o brilho da tela à minha frente —
e nela,
o vulto de Zalea Baranov.
Uma imagem capturada em silêncio durante a última reunião da máfia.
Um instante congelado, mas que berrava por socorro.
Ela tentava esconder os braços, os punhos envoltos pelo tecido fino do vestido.
Mas eu vi.
Vi os hematomas emoldurando sua pele clara,
como a caligrafia de um carrasco familiar.
A assinatura púrpura de Ivan Baranov.
Vi seus olhos — amplos, límpidos —
tentando simular frieza,
quando tudo nela era bruma e tempestade.
Zalea estava se desfazendo.
Tornando-se fumaça no corredor de uma casa que deveria protegê-la.
E, enquanto eu respirar,
ninguém mais ousará marcá-la.
Inclinei-me para frente.
A foto diante de mim me puxava como uma lâmina na carne.
O copo de vodca repousava ao lado, intacto por um instante,
até que minha mão o tomou com brutalidade.
O g