A mansão Blackwood nunca havia visto preparativos tão intensos. Floristas trabalhavam lado a lado com técnicos em segurança, caterers coordenavam menus enquanto especialistas em varredura eletrônica checavam cada canto em busca de dispositivos de espionagem.
O casamento de Maximiliano e Valentina seria um evento que marcaria época - e potencialmente um alvo para todos os inimigos que haviam acumulado ao longo dos anos. Valentina estava em seu quarto na mansão, sendo preparada por uma equipe de cabeleireiros e maquiadores que haviam assinado acordos de confidencialidade mais rigorosos que contratos governamentais. Seu vestido de noiva pendia numa forma ao lado - uma criação em seda italiana que custara mais que a maioria das pessoas ganhava em uma década. - Você está nervosa? - perguntou Isabella, que havia se nomeado dama de honra e coordenadora geral do evento. - Nervosa não é a palavra certa, - respondeu Valentina, observando seu reflexo no espelho. A maquiagem realçava seus olhos verdes, dando-lhes uma intensidade felina. - Estou... expectante. - Expectante por quê? Pelo casamento ou pela guerra que pode começar esta noite? Valentina sorriu, um sorriso que Isabella estava aprendendo a reconhecer como perigoso. - Por ambos. - Você realmente mudou, não é? Quando tio Max a trouxe pela primeira vez, você parecia tão... inocente. - Inocência é um luxo que os Rosetti não podem se dar, - respondeu Valentina, levantando-se para que as assistentes pudessem ajudá-la com o vestido. - Especialmente agora que sabemos que há traidores entre nossos aliados. A investigação sobre Viktor Kozlov havia revelado informações perturbadoras. O russo mantinha contatos secretos com várias facções inimigas dos Blackwood, e havia evidências de que estava planejando algo para a noite do casamento. - Papai ainda acha que deveríamos adiar, - disse Isabella, ajudando a ajustar o véu de Valentina. - Lorenzo está sendo cauteloso. É compreensível. Valentina se virou, admirando como o vestido se moldava perfeitamente ao seu corpo. A gravidez ainda não aparecia, mas ela sabia que dentro de algumas semanas seria impossível disfarçar. - Mas adiar seria mostrar fraqueza. E fraqueza convida ataques. - E Maximiliano? O que ele acha? - Maximiliano quer sangue, - respondeu Valentina simplesmente. - Viktor não apenas o traiu, ameaçou sua família. Isso é imperdoável. Uma batida suave na porta interrompeu a conversa. Adriana entrou, elegante em um vestido azul-marinho que complementava perfeitamente sua autoridade natural. - Como está nossa noiva? - perguntou, aproximando-se para ajustar um detalhe no véu. - Pronta, - respondeu Valentina. - Pronta para o casamento ou para a guerra? - Para ambos. Como uma verdadeira Blackwood deve estar. Adriana sorriu com aprovação genuína. - Seu pai ficaria orgulhoso. Marco sempre disse que a verdadeira força vem de aceitar completamente quem você é. - Você o conhecia bem? - Conhecia. Antes da... divergência política que levou ao conflito. - Adriana pausou, seus olhos distantes. - Ele era um homem fascinante. Perigoso, mas fascinante. Você herdou muito dele. - E de minha mãe? - Isabella era... feroz. Quando amava, amava completamente. Quando odiava, era implacável. Você tem essa mesma intensidade. Valentina assentiu, absorvendo essas informações sobre pais que mal conhecera. Cada detalhe a ajudava a entender melhor quem estava se tornando. - Os convidados estão chegando, - informou Isabella, olhando pela janela. - Vejo pelo menos seis limusines blindadas no caminho de entrada. - Quem veio? - perguntou Valentina. - Giuseppe Torrino chegou há uma hora com uma comitiva de dez homens. Chen Wei trouxe representantes de três famílias chinesas. E... - Isabella pausou dramaticamente, - Viktor Kozlov acabou de chegar. - Perfeito, - murmurou Valentina. - Ele veio diretamente para a armadilha. - Você tem certeza de que quer fazer isso hoje?- perguntou Adriana, sua voz carregada de preocupação maternal. - Seu casamento deveria ser um dia de alegria, não de derramamento de sangue. - Mãe, - disse Valentina, usando o título pela primeira vez e vendo os olhos de Adriana se encherem de emoção, - em nosso mundo, alegria e derramamento de sangue muitas vezes andam juntos. Além disso, - ela colocou a mão no ventre, - quero que meu filho nasça num mundo onde os traidores já foram eliminados. - Uma batida mais firme na porta anunciou a chegada de Lorenzo. Ele entrou usando um smoking impecável, mas seus olhos carregavam a tensão de um general antes da batalha. - As posições estão estabelecidas, - informou. - Temos homens posicionados em cada entrada, atiradores nos pontos altos, e Marcus coordenando a segurança interna. - E Viktor? - Está no salão principal com seus homens. Cinco guarda-costas, todos armados, mas nossos detectores indicam apenas armas convencionais. Nada de explosivos. - Ele está sendo cauteloso, - observou Isabella. - Ou está planejando algo que não requer bombas. - Não importa, - disse Valentina, ajustando as luvas de renda branca. - Seja qual for seu plano, ele subestimou o quanto mudei desde nossa última conversa. - E Giuseppe? Chen? - perguntou Adriana. - Ambos parecem genuinamente surpresos com a presença de Viktor, - respondeu Lorenzo. - Chen especificamente me perguntou por que convidamos alguém que sabemos ser problemático. - Porque, - disse uma voz profunda da porta, - às vezes é melhor manter os inimigos por perto. Maximiliano entrou no quarto, devastantemente elegante em seu smoking preto. Seus olhos se fixaram em Valentina e por um momento, toda a tensão e planejamento desapareceram. Havia apenas um homem vendo sua noiva pela primeira vez. - Você está... deslumbrante, - disse, sua voz rouca de emoção. - Você não deveria me ver antes da cerimônia, - protestou ela, mas estava sorrindo. - Superstições são para pessoas que não controlam o próprio destino, - retrucou ele, aproximando-se. - E eu precisava vê-la antes de... - Antes de começarmos a guerra? - Antes de me casar com a mulher mais perigosa e linda que já conheci. - Ele a beijou suavemente, cuidadoso para não estragar a maquiagem, mas o beijo carregava promessas de paixão e violência em igual medida. - Pronta? - perguntou quando se separaram. - Mais do que pronta. - Então vamos nos casar e depois eliminar um traidor. - Nessa ordem? - Definitivamente nessa ordem. Quero que Viktor veja exatamente o que está tentando destruir antes de morrer. Eles desceram juntos pelas escadas de mármore da mansão, Valentina com a mão no braço de Maximiliano, seu vestido fluindo como água seda. O salão principal havia sido transformado numa catedral improvisada, com fileiras de cadeiras ocupadas pelos mais poderosos criminosos do hemisfério ocidental. Quando Valentina apareceu no topo da escadaria, um silêncio reverente tomou conta do ambiente. Não era apenas sua beleza que impressionava - era a aura de poder que emanava dela, a certeza absoluta de que estava exatamente onde pertencia. Viktor Kozlov estava na terceira fileira, seus olhos fixos nela com uma mistura de admiração e algo que parecia quase... medo. Ele sabia. De alguma forma, ele sabia que seu tempo havia acabado. A cerimônia foi conduzida por um juiz que há muito tempo estava nos bolsos da família Blackwood. As palavras tradicionais de casamento ganharam um peso diferente quando pronunciadas por pessoas que literalmente tinham poder de vida e morte sobre milhares de outras. - Aceita Maximiliano como seu esposo, para amá-lo e protegê-lo, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, até que a morte os separe? - Aceito, - disse Valentina, sua voz clara e firme ecoando pelo salão. - E você, Maximiliano, aceita Valentina como sua esposa, para amá-la e protegê-la, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, até que a morte os separe? - Aceito, - respondeu ele, deslizando o anel de diamantes em seu dedo. O anel havia pertencido à matriarca original dos Blackwood, e agora marcava Valentina como a nova rainha da dinastia. - Então, pelo poder que me foi investido, eu os declaro marido e mulher. - O beijo que selou a união foi longo e apaixonado, uma declaração para todos os presentes de que os Blackwood agora eram mais fortes do que nunca. Quando se separaram, os aplausos ecoaram pelo salão como trovões. Mas Valentina manteve os olhos fixos em Viktor durante todo o aplauso. E quando ele finalmente encontrou seu olhar, ela sorriu - um sorriso que prometia que a festa estava apenas começando. - Agora, - sussurrou para Maximiliano, - podemos começar a diversão de verdade. - Com prazer, Sra. Blackwood. O som de seu novo nome a fez sorrir ainda mais amplamente. Não era apenas um título - era uma declaração de guerra contra qualquer um que ousasse ameaçar sua nova família. A recepção que se seguiu seria lembrada por décadas. Não apenas pelo luxo ou pela comida requintada, mas pelo sangue que seria derramado antes que a noite terminasse. Viktor Kozlov havia cometido o erro de subestimar o quanto uma mulher pode mudar quando descobre quem realmente é. Ele estava prestes a aprender que a filha de Marco Rosetti e a esposa de Maximiliano Blackwood não era alguém que perdoava traições. A lua de mel teria que esperar. Primeiro, havia contas a acertar.