Ecos da Memória
O som da água caindo da bica no fundo do quintal parecia mais alto naquela tarde abafada.
O céu, entre nuvens pesadas, pairava como uma cortina de chumbo sobre a casa, e Ana observava pela janela da antiga sala, sentindo-se como uma intrusa em sua própria história.
O fichário sobre a mesa ainda estava aberto, revelando páginas amareladas, algumas com anotações manuscritas, outras com recortes colados de jornais da década de 60.
Rafael caminhava lentamente ao redor da sala, lendo em silêncio cada detalhe das paredes.
Quadros antigos com fotos em preto e branco, um espelho de moldura desgastada e um móvel entalhado que ainda conservava o cheiro de lavanda seca.
— A casa inteira é uma cápsula do tempo, ele disse, parando diante do aparador.
— Mas é como se ela respirasse. Como se soubesse que você voltou.
Ana virou-se para ele, os olhos úmidos, mas o sorriso preso entre os lábios.
Havia algo no modo como Rafael olhava para tudo, com curiosidade, reverência