Adeus ao Tio HenriqueA garoa fina caía sobre o cemitério da Consolação, em São Paulo, como se o céu compartilhasse da dor de Ana Luísa. O murmúrio das orações parecia ecoar dentro do peito de Ana Luísa, como se cada palavra recitada pela voz embargada do padre tocasse uma corda tensa e sensível em seu coração. O caixão, de madeira escura e acabamento clássico, repousava no centro da capela da Ordem de São Jerônimo, envolto por coroas de flores com laços dourados e homenagens que pareciam frias diante do calor das memórias que ela guardava daquele homem.Sentada no primeiro banco, Ana Luísa mantinha as mãos unidas sobre o colo. Seus dedos estavam úmidos de suor, e os olhos, fixos, sem piscar, pareciam presos em um passado que agora se tornava definitivo. A brisa da manhã entrava pelas janelas abertas, mas nada aliviava o peso abafado no ar. Ele não merecia partir assim… tão sozinho. Murmurou, mais para si mesma do que para os que a cercavam.— Ele partiu como viveu, Ana, cercado d
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