Eu não deveria ter aceitado o convite de Sophie para aquele coquetel. Já tinha prometido a mim mesma que manteria distância dele. Demian Kim. O CEO arrogante, prepotente, o homem que me fazia perder a paciência em segundos e, pior, que fazia meu corpo responder de maneiras que minha mente detestava admitir, e ele ser extremamente gato, não me ajudava em nada.
Mas Sophie insistiu. “Vai ser divertido, você precisa se distrair, Tess. Não vai ser só sobre negócios, é uma confraternização”, ela disse. Diversão? Com ele no mesmo lugar, a única coisa que eu conseguiria seria dor de cabeça, estresse e uma briga sem fim.
O salão estava lotado, cheio de empresários, políticos e acadêmicos. Eu circulava com uma taça de vinho na mão, conversava com um ou outro figurão pelo salão, tentando ignorar a sensação incômoda de estar sendo observada. Só precisei virar o rosto para confirmar: ele estava ali, do outro lado do salão, me encarando como se eu fosse uma equação complexa que ele estava decidido a resolver. Senti um calor inexplicável na base do meu pescoço e entre as pernas.
Suspirei fundo, bebendo um gole generoso.
— Relaxe, Tess — murmurei para mim mesma. — É só mais uma noite.
— Falando sozinha? — a voz grave surgiu atrás de mim, carregada de ironia.
Fechei os olhos por um segundo antes de me virar.
— Que coincidência infeliz — retruquei. — Você sempre aparece quando não é chamado?
Demian arqueou uma sobrancelha, aquele sorriso cínico curvando os lábios.
— Coincidência? Eu prefiro chamar de destino.
— Engraçado, porque eu chamaria de azar. — Dei um passo para o lado, mas ele acompanhou o movimento, bloqueando minha saída.
— Sempre tão afiada — ele disse, inclinando-se um pouco mais perto. O perfume dele me envolveu: amadeirado, quente, com um fundo adocicado que parecia feito para despertar memórias. Meu corpo congelou por um instante. A lembrança veio como um lampejo, nebulosa, mas marcante: um jardim escondido, música ao longe, um beijo urgente debaixo das sombras. Pisquei rápido, como se pudesse afastar a sensação.
Balancei a cabeça. Não. Não podia ser. Aquilo tinha ficado no passado, uma noite sem nomes, sem promessas. Ainda assim, o perfume dele me atingia como uma chama invisível, arrastando-me de volta para algo que eu não deveria lembrar. Senti uma fisgada no meu ventre e um calor subiu pela minha barriga.
— Já pensou em usar esse veneno para algo mais… produtivo? — a voz dele me trouxe de volta ao presente.
Revirei os olhos, tentando disfarçar o impacto da lembrança. — E me deixar ser mais uma peça do seu império de arrogância? Nem nos meus piores pesadelos.
Ele riu baixo, um som rouco que arrepiou minha pele. — Você realmente me odeia.
— Finalmente percebeu. Parabéns, CEO. — Cruzei os braços.
Demian inclinou a cabeça, os olhos fixos nos meus. — O problema é que, por baixo desse ódio todo, eu sei que tem algo mais.
Senti meu coração acelerar, mas mantive o olhar firme. — Está delirando.
— Estou? — Ele se aproximou ainda mais, a voz baixa, íntima. — Então me diga, doutora Grant… por que tremeu quando segurei seu braço naquela noite? Por que está respirando fundo agora, como se quisesse me afastar e me puxar ao mesmo tempo?
As palavras dele queimaram em mim, me deixando sem resposta por alguns segundos. Maldito.
— Você tem um ego do tamanho de um continente, Demian — sussurrei entre dentes. — Só isso explica tanta presunção.
Ele sorriu, satisfeito. — Ou talvez seja só a verdade que você não quer admitir.
Eu ri, mas o som saiu nervoso, forçado. — Se está esperando que eu caia nos seus joguinhos, vai se decepcionar. Eu não sou como as outras mulheres que você manipula.
— Eu sei. — A resposta dele foi rápida, direta. — É por isso que você é fascinante.
Minha garganta secou. Por um segundo, o salão inteiro desapareceu, restando apenas nós dois naquele embate silencioso. E o maldito perfume, insistente, me puxava de volta para a memória daquele beijo perdido no tempo.
Sophie apareceu ao meu lado, sorridente, interrompendo a tensão. — Tess, Dem! Que bom ver vocês conversando civilizadamente.
— Civilizadamente? — repeti, arqueando a sobrancelha. — Não é bem essa a palavra.
Demian riu de canto. — Eu diria que estamos nos entendendo.
— Entendendo? — murmurei, sem disfarçar o sarcasmo.
Sophie, alheia à faísca que crepitava entre nós, se afastou para cumprimentar outros convidados. Fiquei presa novamente com ele.
— Você realmente não sabe quando desistir, não é? — perguntei.
— Nunca — respondeu, firme, com aquele olhar que parecia atravessar minha alma.
E antes que eu pudesse reagir, ele se inclinou ligeiramente, seus lábios quase roçando meu ouvido. — Um dia, você vai parar de me odiar, Tessa. E quando esse dia chegar, não terá mais volta.
Meu corpo inteiro se arrepiou, e eu o odiei por isso. Odiei mais ainda a mim mesma por não ter forças para simplesmente virar as costas.
Ele se afastou devagar, deixando sua presença gravada no ar ao meu redor. Eu respirei fundo, tentando retomar o controle, mas era inútil. Cada palavra dele ecoava dentro de mim. Cada nota daquele perfume trazia um fantasma da noite que eu tinha enterrado.
Eu queria odiá-lo. Precisava odiá-lo. Mas, pela primeira vez, temi não conseguir.