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Capítulo 6 – Choque de Mundos - Demian

Eu não a esperava ali.

O auditório da universidade não era exatamente o meu habitat natural. Eu preferia salas de reuniões envidraçadas, mesas de negociações tensas e contratos de dezenas de páginas, assinados por mãos que tremiam de medo ou ambição. Ali, em meio a estudantes e pesquisadores, me sentia deslocado. Mas Liam, meu advogado e amigo de longa data, havia insistido. Ele me convenceu de que seria uma boa imagem para minha empresa aparecer como um dos investidores convidados, já que parte do capital financiava projetos daquela universidade. A causa era nobre, claro, mas pouco rentável. Eu tinha ido mais por ele do que por interesse real.

Estava preparado para uma tarde entediante de gráficos, relatórios e promessas científicas vazias. Até que a vi subir ao palco.

Tessa Grant.

Por um instante, pensei que fosse uma peça pregada pelo destino. A mesma mulher que, dois dias antes, havia transformado um jantar em campo de batalha, agora surgia diante de mim, com o cabelo preso de forma impecável, a postura ereta e aquele olhar que parecia cortar qualquer um ao meio. Eu deveria rir da coincidência. Mas quando ela ergueu o queixo e começou a falar, percebi que não havia nada de engraçado.

Ela estava séria. Focada. Brilhante.

Minha atenção, que deveria estar dispersa, prendeu-se nela como ferro atraído por um ímã. Eu deveria estar entediado com gráficos, tabelas e termos técnicos, mas não estava. Estava hipnotizado pelo som da voz dela, pela firmeza com que defendia cada dado, pela paixão escondida em cada palavra.

Ela acreditava. De verdade.

E isso, confesso, mexeu comigo mais do que eu gostaria de admitir. Não porque me convencesse, eu ainda via falhas, riscos, investimentos incertos. Mas porque havia um fogo nela que eu raramente encontrava, mesmo entre tubarões de mercado. Não era só intelecto. Era convicção. Uma convicção que parecia feita para me desafiar.

E eu não seria eu se não testasse os limites dela.

Esperei o momento certo, quando a confiança já brilhava nos olhos dela. Cruzei os braços e deixei minha voz cortar o ar.

— Interessante. — falei com calma, como quem observa um espetáculo. — Mas qual seria o retorno prático desse investimento? Não em teoria, doutora. Em números. Deixando de lado, claro, o sentimentalismo. Preciso de dados reais. Quanto será o retorno desse investimento? Porque, nisso podemos concordar, sua pesquisa não é nada humilde em termos monetários.

O leve estremecer da plateia foi imediato. Vi a irritação brilhar nos olhos dela, aquele lampejo que eu já conhecia, uma mistura de fúria e determinação. E então ela sorriu, não doce, mas afiado como uma lâmina.

— O retorno, senhor Kim, não pode ser medido em cifras. Estamos falando de salvar vidas, reduzir custos médicos, mudar realidades. Talvez isso não caiba nas planilhas que o senhor tanto adora.

Parte do público riu. Não dela, mas comigo. A maioria provavelmente achava que eu tinha sido derrotado. E talvez eu tivesse, se estivéssemos em uma arena comum. Mas eu não estava irritado. Eu estava… intrigado. Instigado.

Ela havia me desafiado, de novo, e parte de mim vibrou com isso. Tessa Grant não se curvava. Nem diante do meu nome, nem diante da minha fortuna. E quanto mais ela se erguia contra mim, mais eu queria ver até onde iria sua coragem.

Ela terminou a apresentação sob aplausos. Eu também bati palmas, embora não pelo conteúdo, mas pela forma. Ela dominava o palco como poucos homens de negócios que conheci em toda a minha vida. O mundo acadêmico podia aplaudir seus dados. Eu aplaudia sua ousadia.

Quando ela desceu do palco e saiu pela lateral, eu soube que não poderia simplesmente deixá-la ir. Levantei-me e segui seus passos.

O corredor estava vazio, as paredes brancas refletindo a luz fria. Seus saltos ecoavam, rápidos, como se ela quisesse escapar de algo. De mim. E isso só tornou a perseguição mais irresistível.

Quando ela se virou, nossos olhos se encontraram.

— Gostei da sua coragem, doutora — disse, aproximando-me devagar, como um predador que cerca a presa. — Embora sua arrogância seja quase tão grande quanto sua inteligência.

Ela cruzou os braços imediatamente, pronta para o embate. Aquela postura defensiva só tornava tudo mais provocador.

— O sentimento é mútuo — retrucou, com aquela voz firme que parecia feita para me irritar.

Não consegui evitar o sorriso. Ela era um desafio constante. Inclinei-me, diminuindo a distância entre nós, apenas para testar. Queria ver até onde ela iria. Queria sentir o efeito da minha proximidade.

E funcionou.

Eu vi. Vi o coração dela acelerar no movimento sutil do pescoço. Vi os olhos tremerem por um instante antes de se firmarem novamente. E senti. O ar denso entre nós, a respiração dela roçando na minha, a linha tênue entre ódio e algo mais… perigoso.

— Você pode fingir que me odeia, doutora — murmurei, a voz baixa, próxima o suficiente para fazê-la prender a respiração. — Mas seus olhos… dizem outra coisa.

Foi apenas um instante. Mas um instante suficiente. O fogo que ela tentava esconder brilhou ali, nu, cru, antes que ela se virasse e passasse por mim com toda a dignidade que conseguiu reunir.

A cada passo dela, senti como se tivesse perdido uma batalha invisível. Mas não era derrota. Era o prenúncio de uma guerra.

E eu sabia. Sabia, com absoluta clareza, que aquilo estava longe de terminar.

Ela podia fingir indiferença. Podia me odiar com cada fibra do corpo. Podia até jurar nunca ceder.

Mas cedo ou tarde, Tessa Grant descobriria a mesma verdade que eu já aceitava: entre nós, não havia apenas rivalidade. Havia algo muito mais perigoso.

A guerra entre nós estava só começando.

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