O silêncio no quarto parecia pesado demais para ser apenas a ausência de barulho. Eu me sentia presa entre o medo e a necessidade de confiar naquele homem que, mesmo com o perigo correndo por nossas veias, me mantinha viva — e de certa forma, inteira.
Baran dormia, exausto, o corpo marcado pela luta e pela tensão que há horas não deixava que seu espírito descansasse. Olhei para ele, tentando decifrar o que mais estaria escondido por trás daquela expressão dura, como se ele carregasse um peso que nem mesmo eu podia aliviar.
Minha mente voltou àquelas palavras sussurradas — Cem, o irmão dele, o traidor. Era impossível digerir aquela traição tão perto, tão real. Como alguém tão próximo poderia ter osso suficiente para armar uma emboscada e quase acabar com a vida do próprio irmão? E pior, como protegeríamos Baran e a mim mesma sem que ele soubesse a fundo?
Levantei-me com cuidado, evitando fazer barulho, e caminhei até a janela. A vista da cidade estava embaciada pela névoa da madrugada,