Mundo de ficçãoIniciar sessãoEla nunca deveria ter sido sua esposa. Ele nunca deveria tê-la tocado. Um casamento arranjado, uma mentira cruel e um pacto de sangue selaram o destino de Angelina Harrington, a filha adotiva esquecida e marcada pelas cicatrizes do passado. Jogada nos braços de Nikolai Volkov, o temido Dom da máfia russa, ela descobre que não existe escapatória — apenas a dor de ser odiada por um homem que jura que ela é cúmplice da traição que o amarrou a ela. Frio. Cruel. Impiedoso. Nikolai transformou sua vida em um inferno, mas quanto mais tenta destruí-la, mais se vê aprisionado pela força e pela inocência daquela que deveria ser apenas sua punição. Entre ódio e desejo, vingança e paixão, uma guerra começa: Ele promete quebrá-la. Ela promete não se render. Mas quando segredos vêm à tona e o sangue da máfia exige sacrifícios, só uma pergunta importa: o ódio será mais forte que o amor? Avisos de Conteúdo: Leitura +18: contém cenas explícitas de sexo, violência e linguagem imprópria. Dark Romance: relacionamento intenso, tóxico e de poder desigual. Gatilhos sensíveis: coerção, abuso psicológico, violência física e emocional, traumas, vingança, perda e luto. Não recomendado para leitores que buscam histórias leves ou romances convencionais.
Ler maisNIKOLAI VOLKOV
A igreja tinha o odor de ferro velho e cera derretida. Como se as paredes suadas guardassem o sangue e o suor de todos os pecadores e almas condenadas que já se ajoelharam aqui. E eu sou o maior deles, não pelo que fiz, mas pelo que estou prestes a fazer. O silêncio é uma coisa viva e pesada, estrangulando o ar. O único som que existe é o eco dos meus passos no mármore. E cada um é um golpe seco no túmulo da minha própria honra. Não é o peso do terno italiano que me esmaga, é o peso da humilhação, tão densa que quase posso tocá-la. Esta cerimônia é uma farsa tão obscena que até o padre evita meus olhos. A prova final não está no que se vê, mas no que não se vê: os bancos vazios. Apenas dezesseis almas condenadas testemunham isso. Dezesseis testemunhas do meu assassinato social. E entre elas, o único olhar que pesa mais que o meu próprio ódio: o do meu pai. Ivan Volkov. O Velho Urso. O homem que forjou o homem que sou, cujas leis estão gravadas a fogo na minha própria carne. Seu olhar é uma âncora de gelo no fundo do meu peito — não de raiva, mas de uma decepção silenciosa e cortante. É por respeito a ele, por essa tradição antiga da Bratva que nos rege, que estou aqui. É o único fio que me prende a esta insanidade. O único fio que me impede de virar esta igreja de cabeça para baixo. Mas meus olhos não vagueiam muito. Eles encontram o alvo imediatamente, como a mira de uma sniper. Três figuras na primeira fileira. Três rostos malditos. A esposa hipócrita, Elizabeth Harrington. Sua falsa doçura é um véu mais espesso que o da noiva. O velho Richard Harrington. Seu olhar de aço é o de um carcereiro que trancou a própria filha na cela comigo, um lobo faminto, por pura ambição. E ela. “Victoria”. A irmã, a maldita arquiteta desta masmorra dourada. Seu sorriso é um corte fino de veneno, e eu o sinto como se tivesse sido injetado diretamente em minha veia. Uma trindade maldita. Mentalmente, eu marco cada um. Não com tinta, mas com a promessa de uma bala. Ou algo mais lento. E então, no fim deste corredor que leva ao meu inferno, está ela. A razão de tudo isso. A deformada. Angeline Harrington. Ela está parada, imóvel como um fantasma, envolta em um véu branco tão espesso que parece querer engoli-la inteira. Deveria ser um símbolo de pureza. Para mim, é apenas o pano de embrulho para a mercadoria estragada que me vendem. Meu destino foi amarrado à cicatriz dela, e eu não sei o que odeio mais: o veneno daquela família ou o reflexo miserável de quem me tornei. Obrigado a colocar uma aliança no dedo de uma sombra. Um pensamento, amargo e acre, sobe pela minha garganta como bílis: Então é isso. Nikolai Volkov. O homem que quebrou costelas e impérios sem pestanejar. Reduzido a uma marionete. Forçado a casar com uma... deformada. Tudo por um jogo de poder que não escolhi jogar. Mas já que me escolheram para esse jogo, vou fazer com que saibam que eu nunca jogo para perder. E quando eu ganhar, todos os Harrington vão se arrepender de ter colocado a filha quebrada deles no meu caminho. O padre abriu o missal, sua voz ecoando vazia sob a abóbada. —Estamos hoje aqui reunidos para celebrar a sagrada união... Não deixei que terminasse. Minha voz cortou a dele, seca e impaciente. —Vamos, padre. Pule essa palhaçada e vá direto aos votos. Ninguém aqui veio por fé. Um choque coletivo percorreu os bancos. O padre ficou com as faces coradas, boquiaberto. Até os ombros de Angeline, diante de mim, estremeceram de repente. Mas então, uma voz suave e delicada, quase um sussurro, saiu de bajo do véu: —Sim... por favor, vamos em frente. Aquela voz me pegou de surpresa. Era mais calma do que eu esperava. Mais resignada do que aterrorizada. Ignorei. O padre, visivelmente constrangido, murmurou algo e adiantou o cerimonial. Quando chegou minha vez, os votos saíram da minha boca. Minha voz era plana, morta, um fantasma de som que não carregava nenhuma emoção, nenhuma promessa. Não era uma declaração de amor, era a leitura de uma sentença. Então, veio o momento que todos, no fundo, esperavam. —Você pode levantar o véu da noiva — anunciou o padre, sua voz ainda trêmula. Um silêncio cortante tomou conta da igreja. Avancei um passo. Minha mão se ergueu, não com a reverência de um noivo, mas com a frieza de um carrasco prestes a puxar o capuz do condenado. Meus dedos encontraram a borda do tecido. Eram finos, gelados. Puxei. O véu deslizou para trás, revelando o que estava escondido. E lá estava. A cicatriz. Era uma linha violenta, uma serpente rosa e irregular que serpenteava da têmpora direita até o canto da boca, uma marca de violência eternizada em pele pálida. Foi a primeira e única coisa que meus olhos registraram. Meu cérebro, intoxicado de ódio, recusou-se a processar qualquer outro detalhe. Cicatriz. Deformada. Noiva. Era tudo que ela era. É isso, o pensamento ecoou dentro de mim, seco e cínico. A mercadoria finalmente revelada. Tão feia por fora quanto este casamento é por dentro. Não vi o desespero nos olhos dela. Não notei o verde opaco, inundado de lágrimas contidas. Não me importei com o lábio inferior tremendo levemente. Tudo o que consegui enxergar era aquela falha, aquela imperfeição que me fora imposta como um selo de minha própria derrota. Ela era a prova física da minha humilhação, e eu a odiava por existir naquele momento. Odiava cada centímetro daquela marca. Odiava a família que a colocou no meu caminho. E, no fundo do abismo, odiava a mim mesmo por não ter sido esperto o suficiente para evitar esta armadilha. Baixei o véu com um movimento brusco, cortando a cena. O espetáculo havia acabado. A visão me enojava. O padre, constrangido, prosseguiu. —Pelo poder concedido a mim... eu os declaro marido e mulher. As palavras caíram no silêncio como uma pedra em um poço seco. Marido e mulher. O carcereiro e a prisioneira. Era assim que começava. Mal a porta da igreja se abriu para a saída, o velho Richard se aproximou, um sorriso oleoso estampado no rosto, estendendo a mão. —Parabéns, Nikolai. Que seja uma união muito... — Me poupe das suas falsas felicidades, Richard — cortei, olhando para a mão dele como se fosse algo nojento. — E saia da minha frente, se não quiser descobrir exatamente quem eu sou neste instante. O sorriso dele congelou, transformando-se em um ricto de ódio contido. Ignorei-o, passando por ele como se fosse um poste, minha atenção já voltada para o carro que me levaria para a mansão Harrington, onde eu finalmente provaria a fraude deles.NIKOLAI VOLKOV Assenti àquele casamento amaldiçoado diante de todos, com a raiva não como um fogo, mas como uma lâmina gelada encostada na minha própria garganta. Eles pensaram que me dobraram. Vi nos olhos deles — no sorriso de hiena de Richard, no brilho de triunfo nos olhos de Victoria — a convicção de que eu havia me tornado um fantoche. Um cão domesticado pela conveniência. Engano fatal. Eles não me conheciam. Mas conheceriam. Assim que Richard se aproximou, com aquele sorriso oleoso de quem acredita ter vencido, agarrei o braço de Angeline. Não foi um gesto de união, mas de posse. De marcação de território. Através da fina manga do vestido, senti a fragilidade dos ossos dela, o tremor quase imperceptível. Mas não nasceu ali um pingo de compaixão. Apenas um desprezo mais profundo. Aos meus olhos, ela não era vítima. Era cúmplice. A peça "inocente" e conveniente na farsa urdida por Victoria. Talvez até a mentira fosse dela — a deformada que viu na armadilha a sua única chanc
ANGELINE HARRINGTON A consciência voltou como um afogamento. Um peso imenso sobre as pálpebras, uma língua grossa e seca, e uma dor de cabeça latejante que ameaçava rachar meu crânio. O mundo veio de volta em fragmentos: a textura áspera dos lençóis que não eram os meus, o cheiro amadeirado de um perfume masculino que me era estranho… e o calor de outro corpo na cama. Quando consegui forçar meus olhos a se abrirem, o ar parou em meus pulmões. Ele era enorme. Mesmo deitado, sua presença dominava o espaço. E seus olhos… olhos cinza e gélidos que já me fitavam, não com desejo, mas com um desprezo tão profundo que pareceu me esfaquear. Eu estava de costas para ele, mas me virei instintivamente, e seu rosto se tornou nítido. Duro. Esculpido em granito e ódio. O pânico, um animal vivo e selvagem, despertou dentro de mim. Um grito se formou na minha garganta, um som rouco e quebrado de terror. — Cale-se, maldita — ele rosnou, sua voz um trovão baixo e ameaçador que ecoou no quarto silen
NIKOLAI VOLKOV Mal cruzei a soleira do salão principal da mansão, com Angeline arrastada como um fardo ao meu lado, a cena grotesca se revelou. Meu pai, Ivan Volkov, e os outros senhores do clã, assim como os Harrington, já nos esperavam. Todos de pé, taças de champanhe na mão, como se estivessem assistindo a uma peça de teatro. Ao olhar para o rosto triunfante de Victoria, novas memórias me assombraram — os fragmentos enevoados do que havia acontecido apenas algumas horas antes, ao amanhecer. Amanhecer na mansão Harrington… A consciência voltou como um golpe, brutal e repentino. Um gosto amargo de veneno e uísque encobria minha língua. A cabeça latejava, o mundo girava. Meus olhos se abriram para um quarto desconhecido, banhado na luz fraca da manhã que vazava pelas cortinas pesadas. E então, senti — o calor de um corpo suave contra o meu. O peso de um braço alheio sobre o lençol. O que vi fez o meu sangue gelar instantaneamente. Uma mulher. Nua. De costas para mim, os ombros
CAPÍTULO 2 Nikolai Volkov A caminho da mansão, a minha mente já trabalhava a mil, calculando cada movimento, cada peça do xadrez que eu teria que sacrificar para expor aquela fraude. Os planos se formavam gelados e precisos atrás dos meus olhos. Até que, olhando de lado, um sorriso cruel e involuntário curvou o canto da minha boca. Lá estava ela. Minha noiva deformada. Encolida no canto oposto da limusine, tentando ocupar o mínimo de espaço possível, como um animal acuado. O véu ainda cobria o rosto, um último refúgio patético. A ironia era tão cortante que eu precisei dar voz a ela. —Por que o medo, senhora Valkov? — minha voz soou baixa e áspera dentro do carro. — Não foi você mesma quem procurou entrar na caverna do lobo? Ela estremeceu, mas não respondeu. O silêncio dela era mais irritante que qualquer resposta. Antes que eu pudesse cutucar mais o monstrinho, o carro parou. “Chegamos”. Faria ela e toda a sua família pagar, em breve, ela ainda mais breve do que ela pudesse
NIKOLAI VOLKOV A igreja tinha o odor de ferro velho e cera derretida. Como se as paredes suadas guardassem o sangue e o suor de todos os pecadores e almas condenadas que já se ajoelharam aqui. E eu sou o maior deles, não pelo que fiz, mas pelo que estou prestes a fazer. O silêncio é uma coisa viva e pesada, estrangulando o ar. O único som que existe é o eco dos meus passos no mármore. E cada um é um golpe seco no túmulo da minha própria honra. Não é o peso do terno italiano que me esmaga, é o peso da humilhação, tão densa que quase posso tocá-la. Esta cerimônia é uma farsa tão obscena que até o padre evita meus olhos. A prova final não está no que se vê, mas no que não se vê: os bancos vazios. Apenas dezesseis almas condenadas testemunham isso. Dezesseis testemunhas do meu assassinato social. E entre elas, o único olhar que pesa mais que o meu próprio ódio: o do meu pai. Ivan Volkov. O Velho Urso. O homem que forjou o homem que sou, cujas leis estão gravadas a fogo na minha pr
Último capítulo