Acordamos entrelaçados no chão do quarto, os lençóis jogados sobre nós de maneira desleixada. A luz do sol entrava pela janela com timidez, como se soubesse que não era bem-vinda. Meu corpo doía de novo – mas dessa vez, mais fundo, como se a alma também tivesse sido usada, e não apenas a pele.
Mehmet ainda dormia. Seu rosto estava relaxado, quase inocente, como se o mundo lá fora não estivesse em chamas. Como se ele não fosse o homem mais temido de Istambul. O homem por quem eu havia me apaixonado sem querer, sem conseguir evitar, sem nenhuma lógica além da pulsação incontrolável do coração.
Desvencilhei-me devagar, com cuidado para não acordá-lo. Enrolei o lençol no corpo e fui até a varanda. A brisa era fria, mas reconfortante. Observei a cidade acordando, os carros, as buzinas, as pessoas correndo com seus cafés e mochilas.
E eu ali, vivendo uma realidade paralela. A médica. A mulher. A amante de um mafioso.
— Já tá pensando demais tão cedo? — a voz dele chegou rouca, ainda embarga