Ana
Eu acordei com a sensação de que alguém tinha deixado uma turbina ligada dentro do meu peito.
Acordar? Mentira. Eu nem dormi direito.
A cada vez que fechava os olhos, a cena voltava como um replay irritante: ele ali, parado na minha frente, aquele olhar, aquele cheiro, aquela voz rouca dizendo “boa noite, Ana”.
E o beijo.
Na bochecha.
Mas um beijo que devia ser estudado, porque o desgraçado conseguiu transformar um simples toque em uma confusão hormonal de categoria internacional.
Virei na cama, me enrolei no lençol, respirei fundo e falei pra mim mesma:
— Não foi nada demais. Ele só foi educado. É isso. Um gesto amigável. Amigável.
“Amigável” o cacete. Nenhum amigo fala com aquele tom. Nenhum amigo olha daquele jeito.
Mas eu insisti: — Não foi nada.
Me levantei com raiva, como se pudesse convencer meu corpo pelo cansaço. Escovei os dentes mais forte do que o necessário, lavei o rosto com água quase gelada e evitei olhar no espelho — porque eu sabia que ia encontrar o mesmo olhar d