Ana
Eu estava deitada na cama fazia horas, mesmo sem ter percebido o tempo passar. O quarto estava naquela meia-luz amarela do abajur, e eu ali, travada, com o poema na mão de novo. Aquele papel já estava até meio amassado de tanto eu ficar dobrando, abrindo e encarando como se fosse um enigma de filme.
As letras eram fininhas, tortas, inclinadas pra um lado, algumas borradas… claramente coisa de criança. Não era letra de adulto fingindo simplicidade. Era letra real de criança pequena. Talvez uns cinco, seis anos? Não sei. Mas dava pra sentir a inocência só de olhar.
E o mais estranho era o conteúdo. Eu li outra vez sem nem perceber que estava lendo em voz baixa:
“meu elefante rosa, meu melhor amigo. sempre está comigo, me protegendo do perigo…”
Um elefante rosa.
Proteger do perigo.
Melhor amigo.
Eu fiquei encarando aquilo, e meu cérebro dava voltas. Era impossível não pensar na voz daquelas mulheres no banheiro do clube. “Aquela fatalidade… ele ficou como um zumbi… esse garoto ainda