Ana
O cheiro do café foi o primeiro tapa na cara da manhã.
O segundo foi lembrar da noite anterior.
Abri os olhos e vi a luz do sol entrando pela janela, cortando o quarto de um jeito bonito demais pra combinar com o meu humor. Me espreguicei e olhei pro teto, tentando não pensar na cena patética que foi eu, espionando conversa alheia e depois fingindo que nada tinha acontecido.
“Parabéns, Ana. Espionagem nível zero. Inveja do James Bond não vai ter.”
Me levantei devagar, vesti a primeira roupa limpa que encontrei e fui pra cozinha, rezando mentalmente pra ele não estar lá. Claro que estava.
Lex tava de costas, mexendo na cafeteira, todo arrumado com aquela camisa social branca que parecia tirada de um comercial de perfume caro. O tipo de visão que o universo te dá só pra te lembrar que a vida é injusta.
Ele se virou quando me ouviu chegar.
— Bom dia. — disse, simples, sem o menor traço de ironia.
Respondi meio seca:
— Bom dia.
Silêncio.
O tipo de silêncio que grita.
Ele se sentou à m