Davi sonhava com luzes.
Sonhava com estrelas desenhadas no céu noturno, com risadas abafadas entre árvores e o som suave de uma voz chamando seu nome — mas ele nunca conseguia ver o rosto. Acordava sempre com o coração apertado, como se tivesse esquecido algo precioso e estivesse tentando segurar areia nas mãos.
No hospital, tudo parecia rotineiro: fisioterapia, exames, visitas supervisionadas. Helena estava quase sempre por perto. Levava doces, jogava conversa fora, ria alto. Mas algo nela parecia... forçado. Como se estivesse tentando se convencer de que aquele papel de namorada era realmente dela.
E, nos últimos dias, Davi começou a se sentir desconfortável com isso.
— Você sempre foi assim... falante? — ele perguntou numa tarde, enquanto ela fazia tranças em seu próprio cabelo e contava sobre um suposto fim de semana que tinham passado juntos em alguma chácara.
Helena parou por um segundo.
— Sempre. Você costumava dizer que adorava isso em mim.
Ele franziu a testa.
— Engraçado. No