O dia seguinte amanheceu nublado, mas dentro do quarto 204 do hospital, algo começava a clarear.
Davi acordou com uma inquietação difícil de explicar. Sentia-se como alguém que havia saído de um sonho longo e pesado, onde tudo estava embaçado — mas agora, pouco a pouco, os contornos ganhavam forma.
Aurora não voltou naquele dia, mas sua presença parecia pairar em cada canto.
Ele levantou da cama, pegou uma folha nova e começou a desenhar. As mãos pareciam mover-se sozinhas, como se guiadas por lembranças que ainda não tinham palavras. Traço por traço, nasceu a imagem de duas pessoas deitadas sob um céu estrelado. A menina escrevia algo em um caderno. O rapaz a observava com um sorriso sereno.
Assim que terminou, Helena entrou.
— Oi, amor — ela disse, apoiando uma sacola na mesa. — Trouxe seus biscoitos preferidos.
Davi virou-se lentamente.
— A gente pode conversar?
Helena se aproximou, o sorriso meio forçado.
— Claro. O que houve?
Ele pegou o desenho.
— Isso significa algo pra mim. Nã