Era uma quarta-feira morna e esquecível — dessas em que o céu parece suspenso por um fio — quando Mariana entrou na sala de Aurora com um envelope nas mãos.
— Esse chegou do exterior — disse, com curiosidade.
— O selo é francês. E está endereçado… só a você.
Aurora franziu a testa.
Ela conhecia aquela caligrafia.
Mesmo tantos anos depois.
Mesmo depois de ter dito a si mesma que esquecer era o melhor caminho.
Sentou-se devagar, como se o corpo soubesse o que o coração ainda negava.
Abriu o envelope com cuidado.
Dentro, um papel fino, perfumado com lavanda — como as cartas que recebia na juventude.
E então leu.
*“Querida Aurora,
Se essa carta chegou até você, então minha covardia perdeu uma batalha.
Passaram-se quinze anos desde que eu fui embora.
Fui embora de você, da editora, do país…
Fui embora de mim.”*
Aurora parou.
Os dedos tremiam.
O nome não estava ali. Mas a alma que escrevia era inconfundível.
*“Talvez você me odeie.
Talvez tenha me apagado de tudo.
Mas houve uma noite em que