Era uma sexta-feira de céu melancólico quando Aurora recebeu a mensagem:
*“Boa tarde. Me chamo Clara, tenho 15 anos.
Escrevi uma carta para o projeto ‘Cartas que o Tempo Guardou’, mas não tive coragem de mandar.
Agora acho que preciso estar onde aquela carta poderia ter sido lida.
Posso visitar o Refúgio?”*
Aurora releu várias vezes.
Não era comum receber pedidos assim — diretos, frágeis, como se a menina tivesse reunido coragem em gotas.
Respondeu imediatamente:
*“Clara, o Refúgio está de portas abertas.
Traga sua carta — ou só o que você quiser compartilhar.”*
Clara chegou no sábado, no meio da tarde.
Usava um moletom azul com as mangas puxadas até as mãos.
Andava devagar, como quem mede o solo antes de confiar nele.
E trazia consigo apenas uma mochila pequena e um envelope dobrado, já com vincos de hesitação.
Aurora foi recebê-la pessoalmente.
— Bem-vinda.
— Obrigada. — Clara respondeu sem olhar nos olhos.
A casa estava vazia naquele fim de semana.
Era como se o universo tivesse re