O silêncio da casa parecia diferente agora. Quase vivo. Carregado demais. Mariana e Gabriel voltaram para a sala devagar, como se cada passo pudesse acordar a noite inteira. Lá em cima, Guilherme dormia tranquilo. Aqui embaixo, porém, tudo estava longe da tranquilidade.
Mariana sentou-se no sofá. Gabriel permaneceu de pé por alguns segundos, como se tivesse medo de se mover — medo de que tudo desaparecesse se ele respirasse errado. Ela finalmente ergueu o rosto.
— Ele vai melhorar.
— Eu sei — Gabriel respondeu, mas sua voz era outra coisa. — O que eu não sei é o que vai acontecer com a gente agora.
O “a gente” caiu entre eles como uma pedra num lago calmo. Mariana desviou o olhar.
— Gabriel… eu não pensei nisso. Eu nunca imaginei que encontraríamos assim. Eu…
— Você voltou a fugir — ele completou, sentando-se ao lado dela, mas mantendo certa distância. — Mesmo ali no jardim, você queria correr.
Ela respirou fundo, como quem se prepara para mergulhar.
— Eu tive medo.
— De mim?