No hospital mais movimentado da cidade, o neurocirurgião Gabriel Alencar é conhecido por sua seriedade, competência e total dedicação à profissão. Com uma reputação impecável e uma postura fria, ele evita qualquer tipo de envolvimento pessoal. No entanto, sua rotina é abalada quando ele cruza o caminho de Mariana, uma enfermeira dedicada e determinada, que está tentando se recuperar de um término doloroso. Após descobrir que seu ex-namorado, também médico, a traiu, Mariana enfrenta fofocas e olhares julgadores pelos corredores do hospital. O que começa como um simples alívio para as tensões do trabalho logo se transforma em algo mais complexo e proibido. Gabriel, inicialmente buscando apenas uma distração em meio ao caos da vida hospitalar, se vê envolvido de maneira inesperada por Mariana cuja força e vulnerabilidade o atraem. Ao mesmo tempo, Mariana tenta manter sua independência e superar as cicatrizes emocionais deixadas por seu passado. Enquanto ambos lidam com a pressão constante do hospital e os segredos que os cercam, eles descobrem que o coração pode ser ainda mais imprevisível que uma emergência médica. Agora, terão que decidir se vale a pena arriscar suas carreiras e reputações por um sentimento que foge de seu controle.
Leer másO hospital seguia seu ritmo frenético. Mariana atravessava o corredor com uma pilha de prontuários. Atrás dela, duas enfermeiras trocavam olhares rápidos e cochichavam.
— Já soube da história? — murmurou uma, os olhos fixos em Mariana. — Não me diga que é verdade, ele traiu ela realmente — respondeu a outra, disfarçando a curiosidade. — Com a Dra. Cibele da pediatria? Mariana manteve o ritmo firme, as mãos apertando os prontuários com mais força do que o necessário. A mandíbula estava tensa. Ao longe, avistou o Dr. Gabriel Alencar, que passou apressado, lançando um breve olhar em sua direção antes de seguir adiante. As risadas abafadas das enfermeiras ficaram para trás, mas o clima parecia mais pesado a cada passo. Lucas. O nome dele ainda ecoava em sua mente, especialmente desde que soubera da traição com Cibele. As fofocas sobre eles corriam pelo hospital, mas Mariana não deixava transparecer o quanto aquilo a afetava. Ela entrou na sala de prontuários, os movimentos automáticos e eficientes. Lá fora, os comentários e olhares continuavam pesando mais do que ela gostaria de admitir. No balcão da recepção, entregou alguns papéis. O olhar das pessoas era insistente, mas ela manteve o foco. Deixou os documentos e seguiu adiante, sem vacilar. Na área comum, Gabriel apareceu ao seu lado, pegando uma prancheta em silêncio. Mariana continuou focada, mas sentia a presença dele. Gabriel sempre parecia distante, quase frio, mas de alguma forma, ele fazia com que o ambiente ao redor se tornasse denso com uma tensão que ela não sabia explicar. Por um momento, ele a olhou de soslaio, avaliando-a. A tensão no ar era clara, mas nenhum dos dois a dissipou. Ela entregou a última ficha e saiu rapidamente, sem olhar para trás. Na copa, Mariana mexia o café distraída. O tilintar da colher contra a xícara era o único som na sala. — Turno pesado? — Gabriel perguntou, sem tirar os olhos da própria xícara. — Como sempre — respondeu Mariana, seca. O silêncio voltou. Gabriel tomou um gole e saiu, sem mais palavras. Mais tarde, Mariana caminhava rapidamente pelos corredores. Seu foco se dividia entre o que acontecera na ala de emergência e o que sentia ao estar perto de Gabriel. Ao chegar à porta da sala dele, bateu levemente antes de entrar. — Dr. Alencar? — chamou, vendo-o concentrado nos prontuários. Ele ergueu o olhar, mantendo a expressão séria. — O que aconteceu? — perguntou, direto. Ela explicou a situação, e ele ouviu, sem desviar os olhos dos papéis por muito tempo. — Certo, eu cuido disso — disse ele, voltando ao trabalho. Ela hesitou por um momento, mas se virou e perguntou: — O que você vai fazer depois do plantão? Gabriel ergueu os olhos lentamente. Um leve sorriso apareceu em seu rosto. — Eu não me envolvo com o namorado de colegas de trabalho — disse ele, mantendo o sorriso. Mariana sentiu a tensão aumentar. O sorriso dele implicava algo mais. Sem hesitar, ela respondeu: — Que bom que não estou mais namorando. O sorriso de Gabriel aumentou, e seus olhos brilharam. Ele a observou por mais alguns segundos antes de inclinar-se levemente e murmurar: — Talvez você não saiba o perigo que está correndo. Mariana congelou por um segundo, surpresa. "Perigo?" A palavra ecoou em sua mente. Algo no tom de Gabriel não parecia apenas brincadeira. Ela o encarou, pensativa. Gabriel se recostou na cadeira, mantendo o olhar fixo nela. — Te espero no meu carro depois do plantão — completou, ainda com aquele sorriso enigmático. Mariana processou a situação por um momento. Intrigada, assentiu com um pequeno sorriso. — Até mais tarde — disse, antes de sair da sala, sentindo o peso das palavras dele. Quando seu turno terminou, Mariana saiu do hospital já escurecendo. O ar fresco da noite a fez respirar mais fundo, como se tentasse aliviar a tensão acumulada. Seu olhar varreu o estacionamento até encontrar o carro de Gabriel, estacionado em um canto mais afastado. Ele já estava lá, esperando, como havia prometido. Por um breve momento, ela hesitou, como se reconsiderasse o que estava prestes a fazer. "Perigo", a palavra dele ainda ecoava em sua mente, mas ela não sabia se era um aviso real ou apenas uma provocação. Com um último suspiro, começou a caminhar em direção ao carro. Gabriel estava no banco do motorista, olhando para frente, mas quando a viu se aproximar, destravou as portas sem dizer uma palavra. Mariana entrou no carro, fechando a porta com um clique suave. O silêncio entre eles foi denso nos primeiros segundos. A luz suave do painel iluminava os traços sérios de Gabriel, que ainda mantinha aquele ar indecifrável. — Acha que isso é uma boa ideia? — Mariana perguntou, quebrando o silêncio. Gabriel lançou um olhar rápido em sua direção, um leve sorriso puxando o canto de seus lábios. — Você acha que é uma má ideia? — devolveu a pergunta, mantendo o tom calmo. Mariana o encarou, tentando decifrar as intenções por trás daquelas palavras. Ele parecia confortável, como se nada daquilo fosse novidade para ele. Ela, por outro lado, sentia seu coração batendo mais rápido do que gostaria de admitir. — Não sei — respondeu ela, sincera. Gabriel finalmente virou o corpo levemente em sua direção, apoiando o braço no volante. — Então, talvez seja melhor descobrir — disse ele, ainda com aquele sorriso enigmático. Mariana desviou o olhar por um momento, processando a resposta. Ela sabia que aquilo não seria simples, que havia algo a mais por trás daquela calma que Gabriel exibia. E talvez fosse isso que a intrigava tanto. O silêncio voltou a cair, mas dessa vez não parecia tão desconfortável. Gabriel ligou o carro e deu partida, enquanto Mariana observava a estrada à sua frente. Ela sabia que, a partir daquele momento, tudo poderia mudar.A noite de sexta caía sobre a cidade com um céu escuro e pesado, prenúncio de chuva. No apartamento silencioso, apenas o som das teclas preenchia o ambiente.Gabriel revisava a apresentação enviada por Ana. Os slides estavam impecáveis — precisos, objetivos, organizados. Ainda assim, ele relia cada um como se procurasse falhas invisíveis. Era um hábito antigo, herdado da época em que cada detalhe numa sala de cirurgia podia custar uma vida.Agora, era outro tipo de responsabilidade. Mais política. Mais estratégica. Mas não menos exaustiva.Fechou o notebook com um leve estalo, levantou-se da cadeira e caminhou até o quarto. A mala já estava semiaberta sobre a cama. Separou algumas roupas formais, camisas claras, sapatos confortáveis, roupas leves para o clima quente. Ao lado, a mochila com o notebook e documentos. Organizou tudo de forma metódica, como sempre fazia.Quando terminou, olhou pela janela do quarto. A cidade abaixo estava iluminada, mas distante. Como se não pertencesse ma
O dia seguinte amanheceu nublado, e Gabriel chegou ao hospital alguns minutos depois das oito, com a postura impecável de sempre, mas o olhar mais distante que o habitual. Vestia um terno escuro e camisa clara, mas, pela primeira vez em muito tempo, estava sem gravata. Pequenos sinais que Ana notava — e guardava.Ela o esperava junto à porta da sala, segurando um tablet e um copo de café recém-passado.— Café forte. Sem açúcar. Como gosta. — disse com um leve sorriso.— Obrigado, Ana. — respondeu ele, pegando o copo e entrando na sala.Ela o seguiu, sem perguntar mais nada. Sabia que as palavras com Gabriel tinham hora — e propósito.— O pessoal do congresso confirmou sua participação. Voos marcados para sábado à tarde, hospedagem garantida no hotel da organização. Ficarão três noites. — relatou, com a precisão que o acompanhava em tudo.Gabriel assentiu.— Providencie o que for necessário.Ana manteve o tom leve, mas sua atenção estava nos pequenos detalhes. Ela sabia tudo sobre sua
O relógio marcava 6h42 da manhã quando Gabriel entrou em seu escritório no 12º andar do Hospital Alencar. As janelas de vidro revelavam uma vista ampla da cidade, ainda acordando sob o céu acinzentado. O silêncio ali dentro contrastava com o ritmo frenético dos corredores lá embaixo, onde as emergências não tinham hora para chegar.Gabriel vestia um terno escuro, camisa branca e uma gravata sem qualquer padrão. Tudo nele parecia sóbrio, prático, funcional — como se estivesse sempre pronto para resolver um problema. E ele quase sempre estava.Desde que assumira a diretoria do hospital da família, havia pouco espaço para hesitação. A transição de médico promissor para gestor respeitado havia sido rápida — rápida até demais, diziam alguns. Mas ninguém podia negar sua competência. Nem sua frieza.Sentou-se à mesa com o café ainda quente à sua frente, e abriu o notebook. A agenda do dia estava cheia, como sempre: reuniões com o conselho, análise de relatórios, dois contratos pendentes com
O sol da manhã iluminava as ruas tranquilas de Chapada dos Veadeiros. O céu era de um azul quase irreal, e o canto dos pássaros misturava-se ao som suave das folhas dançando com o vento. Mariana caminhava com passos apressados, mas tranquilos, segurando a mão de um garotinho de cabelos castanhos claros e olhos curiosos. — Mãe, hoje tem desenho novo na escola? — ele perguntou, pulando em um pé só. — Tem sim, meu amor. E se você se comportar, a mamãe vai te buscar com um presente. — ela respondeu com um sorriso. O menino sorriu largo, empolgado com a ideia. Ao chegarem ao portão da escolinha, Mariana se abaixou para ajeitar a alça da mochila dele. — Se cuida, tá bom? Nada de correr na hora do lanche. — disse, tocando suavemente o rosto do filho. — Tá bom, mamãe. — ele respondeu, abraçando-a apertado antes de entrar. Ela observou o pequeno Guilherme entrar pelo portão colorido, com a típica mistura de alívio e saudade que toda mãe sente ao deixar o filho. Alguns minutos de
Mariana estava sentada na varanda dos fundos da clínica, envolta por um cobertor fino e o som distante da cidade silenciosa. O céu começava a clarear, tingido de azul-acinzentado, e o cheiro de café recém-passado vinha da cozinha onde Matheus organizava as últimas coisas.Ela olhava para o horizonte com os olhos inchados, mas havia paz ali. Pela primeira vez em muito tempo, o medo não era o sentimento dominante. O silêncio daquela manhã carregava uma sensação de encerramento — e também de recomeço.Passos firmes ecoaram até a varanda. Matheus surgiu, trazendo duas canecas fumegantes, mas o olhar dele carregava algo a mais.— Preciso te contar uma coisa. — ele disse, estendendo a caneca.Mariana franziu o cenho, pegando a bebida. — O que foi?Ele se sentou ao lado dela, respirou fundo e foi direto:— Eu descobri a verdade, Mariana. O Gabriel está vivo.Ela congelou. As mãos trêmulas fizeram a bebida chacoalhar dentro da caneca.— O quê? — sussurrou, como se as palavras não pudessem ser
Matheus estacionou em um prédio discreto, sem letreiros ou placas chamativas. O lugar parecia mais uma casa grande do que um hospital.Ele desligou o carro e virou-se para Mariana.— Espere aqui. Vou falar com ele primeiro.Ela assentiu e observou enquanto Matheus entrava no prédio. O coração dela batia acelerado. O medo ainda estava lá, rondando como uma sombra, mas agora havia algo mais forte que ele: esperança.Poucos minutos depois, Matheus reapareceu acompanhado de um homem alto e de aparência confiável. Ele tinha um jaleco branco e uma expressão atenta.— Mariana, esse é o Dr. Lucas Ferreira. Ele é um dos melhores obstetras que conheço.O médico sorriu suavemente.— Prazer, Mariana. Matheus já me contou um pouco. Sei que está com medo, mas aqui você está segura. Vamos te examinar, tudo bem?Ela assentiu, sentindo um nó na garganta.Matheus estendeu a mão para ajudá-la a sair do carro. Assim que ficou de pé, um arrepio percorreu seu corpo, e uma tontura repentina fez suas pernas
Último capítulo