Elô correu até a rua quase sem fôlego, o diário preso contra o peito como se fosse um tesouro ou uma bomba prestes a explodir. As palavras da mãe martelavam em sua mente: “o mesmo homem que a fez desaparecer.” A cidade parecia diferente naquela noite — cada sombra, cada ruído, carregava uma ameaça invisível.
Quando chegou à praça central, o banco de madeira onde Miguel costumava esperá-la já estava ocupado. Ele levantou ao vê-la aproximar-se e arregalou os olhos ao notar seu estado.
— Elô? O que aconteceu? — Ele correu até ela, segurando seus ombros. — Você está tremendo.
Ela apenas estendeu o diário, os dedos ainda firmes demais para soltá-lo.
— Eu achei. O diário da Clara.
Miguel congelou por um instante, depois pegou o caderno com reverência, como quem segura algo sagrado. Sentaram-se lado a lado, e ele abriu a primeira página rabiscada. As letras, tortas em alguns trechos, carregavam a urgência de quem escrevia com medo.
— Isso... isso muda tudo — murmurou Miguel, folheando devaga