O amanhecer se desenhou devagar, tingindo o céu com uma paleta de cinza, âmbar e ouro. O ar estava fresco, e o cheiro de maresia começava a se misturar ao perfume da terra. Rafael acordou antes do sol, com o som do rio o chamando pela última vez. Havia decidido, há dias, seguir seu curso até o ponto onde ele se encontrava com o mar — o lugar que Isadora sonhara visitar, mas nunca chegou a ver.
Vestiu-se em silêncio, calçou as botas gastas e pegou o caderno. O mesmo caderno de capa de couro, agora velho, cheio de anotações, marcas de dedos e folhas dobradas. Colocou-o no bolso interno do casaco, junto a uma pequena pedra que ela havia recolhido da margem, muitos anos atrás.
A caminhada começou com o sol ainda nascendo. O caminho era longo, mas o corpo dele, mesmo cansado, parecia sustentado por uma força antiga — talvez a mesma que movia o rio. Cada passo era uma lembrança: o primeiro olhar de Isadora, o toque das mãos, as noites sob o som das águas, as palavras sussurradas que o vento