O tempo passou como o rio — em silêncio, levando e devolvendo o que era essencial. A vila cresceu, as árvores se multiplicaram, e a Casa das Águas tornou-se mais do que um lugar: era memória viva. As crianças que um dia correram entre as estantes agora traziam seus próprios filhos, e as histórias de Isadora e Rafael já não eram apenas lembradas — eram contadas como se fizessem parte da paisagem, como o som constante do rio ao fundo.
Dizia-se que, em certas manhãs, quando o nevoeiro cobria a vila e o sol ainda não nascera, era possível ouvir duas vozes à beira das águas — uma feminina, calma e melodiosa, e outra mais grave, serena. Eram sussurros, quase preces, que vinham do coração do rio e se espalhavam pelo vento. Alguns diziam que era apenas o som das pedras sob a corrente; outros juravam que era o amor conversando com o tempo.
A Casa das Águas agora tinha um novo guardião: um rapaz de olhos claros, nascido do mesmo chão que um dia acolhera Isadora. Chamava-se Bento e aprendera a l