O dia amanheceu de um azul suave, quase transparente. O ar tinha o frescor de início de estação — o tipo de manhã em que o mundo parece limpo, refeito, prestes a começar outra vez. A bruma se erguia devagar sobre o rio, e a luz do sol se refletia nas águas, criando pequenas faíscas douradas que dançavam como lembranças.
Rafael acordou cedo. O quarto ainda guardava o perfume de Isadora — aquele cheiro discreto de ervas e papel antigo. A cama, arrumada, parecia guardar o calor do corpo dela. Ele ficou parado por um instante, observando a claridade se infiltrando pela janela, e uma sensação de paz o envolveu. Não era ausência o que sentia. Era permanência.
Saiu para a varanda e sentou-se na cadeira de balanço onde ela tantas vezes ficara. O vento moveu o xale de lã pendurado no encosto, e, por um segundo, ele jurou sentir o toque dela ali — leve, como um sussurro.
O caderno estava sobre a mesa. Abriu-o de novo, como vinha fazendo todas as manhãs desde o dia em que Isadora se foi. Leu uma