O amanhecer chegou como um véu de luz fina sobre o campo. O rio, ao longe, cintilava entre as sombras, um espelho líquido que refletia o primeiro ouro do dia. O ar estava morno, limpo, e o som das águas parecia cantar algo antigo — uma melodia que não tinha começo nem fim, apenas continuidade.
Rafael acordou com esse som. A casa branca respirava silêncio, o tipo de silêncio cheio de vida, que guarda lembranças em cada fresta. A madeira estalava levemente com o frio da madrugada, e o cheiro de café — o mesmo que ele agora fazia todas as manhãs — se espalhava pela cozinha.
Enquanto esperava a água ferver, olhou pela janela e viu o movimento lento da névoa sobre o rio. Aquela visão era seu ritual diário, a sua oração. Não de súplica, mas de gratidão.
Depois do café, caminhou até a margem, como fazia desde que Isadora partira. O caminho era o mesmo — as pedras gastas, a grama alta, o tronco caído na beira do barranco. Mas algo nele sempre parecia mudar. Talvez fosse o olhar dele que se tr