Elô acordou no campo, com o corpo coberto de poeira e a blusa suja de sangue seco. Estava sozinha, deitada na relva áspera, com a pele arranhada e a cabeça confusa. Levantou-se com dificuldade, sentindo as pernas trêmulas e os pensamentos embaralhados. Em sua mão, ainda segurava a pequena semente dourada, que pulsava levemente, como se estivesse viva.
Demorou alguns segundos para lembrar onde estava. O nome "Clara" ecoava em sua mente como se tivesse sido dito há poucos instantes, mas não conseguia se lembrar de quem era. Ou talvez soubesse. Sabia demais. Havia algo dentro dela que não pertencia apenas à sua história.
Caminhou de volta para casa em silêncio. A cidade parecia igual, mas estranhamente distante. Os sons, as cores, os cheiros — tudo estava ali, mas filtrado por uma camada invisível que a deixava isolada, como se estivesse presa entre dois mundos. As pessoas que cruzavam seu caminho pareciam normais, mas os rostos se misturavam com memórias que ela não sabia de onde vinham