Tudo começou com um tapa. Quando minha melhor amiga teve o coração e a conta bancária destruídos por um golpista, eu vi vermelho. A única pista? O rosto do intocável astro asiático, Li Wei. Para mim, ele era o culpado, e eu jurei fazê-lo pagar. Meu plano de vingança começou com um confronto na sua suíte de luxo em Milão e a marca da minha mão em seu rosto perfeito. Mas a verdade era muito mais suja e complicada. Agora, estou presa em uma aliança improvável com o homem que eu jurei odiar. Descobrimos que o inimigo não é ele, mas uma rede criminosa que se esconde nas sombras, e nossa única chance de pegá-los é nos tornarmos a isca. O plano? Fingir o romance do século para o mundo inteiro ver. Cada toque encenado, cada beijo falso para as câmeras, me arrasta para mais perto dele. Tenho que sorrir para os paparazzi enquanto recebemos ameaças sussurradas. Tenho que parecer apaixonada pelo homem cuja arrogância me enfureceu, mas cuja vulnerabilidade inesperada agora ameaça despedaçar minhas defesas. Eu entrei nesse jogo buscando vingança, mas agora, em meio a mentiras, perigos e uma atração que queima mais forte a cada dia, não sei mais se estou caçando um monstro ou me apaixonando por um. E não sei qual dos dois é mais perigoso.
Ler maisO choro de Sofia era um som baixo e quebrado, o tipo de soluço que rasga a alma de quem ouve. Estávamos na suíte do hotel em Milão, um lugar que deveria ser sinônimo de luxo e sonhos, mas que agora cheirava a desastre e rímel borrado. O prosecco que pedimos para celebrar nosso reencontro estava intocado, as bolhas morrendo lentamente em taças de cristal, uma metáfora perfeita para o estado da minha melhor amiga.
– Eu sou tão estúpida, Siena.– A voz dela era um fiapo. – Tão incrivelmente estúpida.
Eu me sentei ao lado dela na cama macia demais, o cetim dos lençóis parecendo uma zombaria. Puxei-a para o meu abraço, sentindo os tremores que percorriam seu corpo. – Você não é estúpida, Sofi. Você foi enganada. Há uma diferença abismal entre as duas coisas.
– Ele parecia tão real,– ela sussurrou contra meu ombro, o celular tremendo em sua mão. – Nós conversamos por meses. Ele me ouvia. Ele... ele me via.
Eu sabia a história. Um empresário chinês, charmoso, bem-sucedido. O romance online perfeito. Promessas de um futuro juntos, um investimento "seguro" para garantir esse futuro. E então, o silêncio. O dinheiro, as economias de uma vida inteira de Sofia, evaporou junto com ele. Um clássico, cruel e nojento.
– Eu só queria ver o rosto dele,– ela fungou, afastando-se um pouco para me mostrar a tela do celular. – Tentei procurar por ele, por qualquer coisa. E eu o encontrei.
Na tela, um homem me encarava. Ele estava em uma foto que parecia profissional, mas íntima. Terno escuro, sem gravata, o colarinho da camisa ligeiramente aberto. O cabelo preto estava um pouco desgrenhado, e um sorriso quase imperceptível brincava no canto de seus lábios. Era o tipo de beleza que parecia cara, esculpida com precisão. Arrogante. Ao fundo, os arranha-céus de Xangai se erguiam como presas de vidro e aço.
– Este é ele,– disse Sofia. – O nome dele é Li Wei.
Meu sangue, normalmente quente pela minha herança ítalo-brasileira, gelou. Eu conhecia aquele rosto. Não pessoalmente, mas era impossível viver neste planeta e não conhecê-lo. Li Wei. O ator. O cantor. O queridinho da Ásia, cujo rosto estava estampado em tudo, desde campanhas de perfume até filmes de grande sucesso. Um homem com um império de dinheiro e poder aos seus pés.
– Sofi, este homem é...
– Famoso, eu sei,– ela me cortou, a voz ganhando um fio de amargura. – Acho que foi por isso que eu caí. Parecia um conto de fadas. Ele me disse que usava um nome diferente online para manter a privacidade. Que estava cansado de mulheres que só queriam sua fama. E eu, a idiota, acreditei.
Uma onda de fúria, pura e avassaladora, subiu pela minha garganta. Não era um golpista qualquer escondido em um porão. Era um homem que já tinha tudo – fama, fortuna, adoração – e ainda assim se dava ao trabalho de destruir uma mulher comum por um punhado de euros. A crueldade disso, a arrogância, o abuso de poder... era vil.
– Onde ele está?– perguntei, minha voz perigosamente calma.
Sofia franziu a testa, confusa com a minha mudança de tom. – O que?
– Li Wei. Onde ele está agora?
– Eu não sei... por quê?– Ela hesitou, e então seus olhos se arregalaram um pouco. – Siena, não. O que você está pensando?
Peguei meu próprio celular, meus dedos voando pela tela. Uma busca rápida. Semana de Moda de Milão. Embaixador da marca. E, com um pouco mais de pesquisa em um blog de fofocas, o nome do hotel. O mesmo hotel em que estávamos. O mesmo hotel onde, em dois dias, eu apresentaria a coleção da Amoretti que definiria minha carreira. A ironia era doentia.
Levantei-me, o ódio um gosto metálico na minha boca. A imagem do sorriso presunçoso daquele homem queimava em minha mente. Ele, com seu poder e fama, achava que o mundo era seu playground particular.
– Siena, por favor,– Sofia implorou, levantando-se também. – Não vale a pena. Ele é poderoso demais. E você... sua apresentação é depois de amanhã. Não arrisque tudo.
– Arriscar?– Eu ri, um som baixo e perigoso. O cheiro do meu perfume – uma criação única da minha irmã, feita para me dar coragem – pareceu se intensificar no ar, uma armadura invisível. – Ele está prestes a descobrir o que é o verdadeiro empoderamento. É uma lição que minha avó italiana me ensinou: nunca deixe um homem pensar que pode pisar em você sem consequências.
Virei-me na porta, meus olhos castanho-esverdeados encontrando os de Sofia. – Ele não vai se safar. Não enquanto eu estiver em Milão.
Marchei para fora da suíte, meu propósito claro como um diamante lapidado. Eu não sabia exatamente o que faria quando ficasse cara a cara com Li Wei. Mas eu sabia, com uma certeza que vibrava em cada fibra do meu ser, que ele se arrependeria do dia em que subestimou a mulher errada. E ele certamente se lembraria do meu cheiro.
Li WeiO clique do envio do dossiê para a Interpol, confirmado por Kenji, soou em minha suíte como o tiro de partida para uma nova guerra. A fase de investigação havia terminado. A fase de confronto havia começado. Mas enquanto minha mente processava as implicações estratégicas, a ameaça iminente de retaliação do Sindicato, meu corpo e meu coração estavam focados em uma única coisa: a mulher parada a poucos metros de mim.Siena.Ela parecia ao mesmo tempo forte e vulnerável, a adrenalina da visita ao café ainda brilhando em seus olhos. Tê-la aqui, em meu espaço, era ao mesmo tempo reconfortante e uma forma de tortura. Cada respiração que ela dava parecia carregar o ar com uma eletricidade que me deixava no limite.Então, o telefone tocou. O ultimato da minha irmã. Enquanto eu falava com o assistente de Lin, recusando a agenda, cancelando Paris e Londres, eu podia sentir o olhar de Siena em mim. Cada palavra que eu dizia – "Cancele", "Estou em Milão por tempo indeterminado" – não era a
Siena DalA manhã seguinte chegou com uma clareza fria e assustadora. Hoje, entraríamos no covil do dragão. Vesti-me com o cuidado de quem veste uma armadura: calças de alfaiataria, uma blusa de seda e um blazer estruturado. Eu precisava parecer controlada, a namorada de um bilionário, não uma mulher cujo estômago estava se revirando de ansiedade.Li Wei me encontrou no lobby do meu prédio. Ele estava igualmente impecável, sua expressão séria e focada. A caminhada até o Caffè Amoretti foi silenciosa, mas a mão dele em minhas costas, um gesto sutil de proteção, falava mais do que palavras.Entrar no café do meu tio foi surreal. O cheiro familiar de café estava misturado com o gosto metálico do perigo. Lorenzo e Kenji já estavam lá, sentados em mesas separadas, sentinelas silenciosas.E então, eu o vi. Marco Bianchi. Atrás do balcão, trabalhando na máquina de espresso. Ele nos viu no momento em que entramos. Vi um lampejo de pânico puro em seus olhos antes que ele o escondesse. Nós o vi
Siena DalA conversa com Li Wei, onde ambos concordamos friamente que nosso beijo foi um "erro", deixou um gosto amargo em minha boca. Era uma mentira, uma frágil armadura que erguemos para nos proteger da verdade complicada de nossos próprios sentimentos. Mas era uma mentira necessária. A missão era perigosa demais para nos darmos ao luxo de distrações emocionais.Naquela tarde, o turbilhão de estratégia deu lugar a uma série de despedidas agridoces.A primeira foi Sofia. Eu a encontrei em seu quarto de hotel, onde suas malas já estavam prontas. Seu rosto, embora ainda pálido, tinha um vislumbre da determinação que eu tanto amava.– Você tem certeza?– perguntei, sentando-me ao lado dela na cama.– Tenho,– ela disse, a voz firme. – Eu não posso ajudar vocês aqui, Siena. Eu sou o ponto fraco. Cada vez que olho para uma foto de Li Wei, mesmo sabendo que não é ele, meu estômago se revira. Eu preciso ir para casa. Preciso do abraço da minha mãe e do café da sua. Preciso me curar.Eu a abr
Siena DalEu não dormi. Passei a noite inteira revirando na cama, o fantasma do beijo de Li Wei assombrando cada pensamento. Meus lábios ainda formigavam. Meu corpo ainda zumbia com a memória de seu toque, de seu corpo pressionado contra o meu. Foi um beijo que deveria ter sido um erro, um momento de fraqueza. Mas meu corpo, meu coração traiçoeiro, o registrou como algo totalmente diferente. Como uma inevitabilidade.Quando o sol começou a filtrar pela janela do meu quarto de hotel, eu me levantei, sentindo-me exausta e estranhamente energizada. O ódio que me moveu por dias havia se dissipado completamente, substituído por uma confusão vertiginosa. O que eu sentia por Li Wei? Admiração? Sim. Atração? Inegavelmente. Mas havia algo mais, algo mais profundo e aterrorizante que eu não estava pronta para nomear.A farsa que havíamos concordado em encenar de repente parecia a coisa mais perigosa do mundo. Como eu poderia fingir estar apaixonada por ele quando a linha entre a atuação e a rea
Li WeiA caminhada pelo corredor, para longe da porta de Siena, foi a atuação mais difícil da minha vida. Cada passo era deliberado, forçado. Meu corpo queria se virar, voltar para ela, terminar o que havíamos começado de forma tão explosiva. Minha mente, a parte de mim treinada por Lin, gritava que eu era um tolo, que havia acabado de cometer um erro catastrófico. Kenji caminhava atrás de mim, seu silêncio como sempre, mas eu podia sentir seu olhar em minhas costas. Ele sabia que algo havia mudado.Assim que a porta da minha suíte se fechou, apoiei-me nela, fechando os olhos. Minha respiração estava instável. Meus lábios ainda formigavam com o gosto dela, uma mistura do vinho tinto que bebemos e algo que era unicamente Siena – uma doçura inesperada sob sua força.O jantar inteiro havia sido uma tortura requintada.Eu a observei durante toda a noite. A forma como a luz das velas dançava em seus cabelos cor de chocolate, como seus olhos castanho-esverdeados brilhavam quando ela falava
Siena DalO plano de Clara era claro: fazer barulho. Mas o barulho, como Li Wei me explicou, tinha que ser coreografado com a precisão de um cirurgião. – Não podemos dar a eles um circo,– ele disse. – Temos que dar a eles um sussurro que todos queiram ouvir.Então, o "jantar romântico" não foi em um restaurante com paredes de vidro. Foi em uma sala de jantar privada de um hotel discreto, um lugar conhecido por sua exclusividade e por proteger a identidade de seus clientes. A notícia não viria de fotos de paparazzi, mas de "fontes" anônimas que vazariam a informação para a imprensa. "Li Wei e a designer Siena Amoretti vistos em um jantar íntimo." Era mais sutil, mais misterioso e, segundo ele, muito mais eficaz.Enquanto me arrumava, uma ansiedade diferente se instalou em meu peito. A ausência de câmeras não diminuía a tensão; pelo contrário, aumentava. Não haveria a desculpa de uma performance. Seríamos apenas nós dois, em uma sala, com a presença silenciosa de Kenji, seu amigo e segu
Último capítulo