Inicio / Romance / ENTRE O ÓDIO E O DESEJO / Capítulo 2 – Sombras no Brilho de Paris
Capítulo 2 – Sombras no Brilho de Paris

O som dos saltos ecoava no chão de mármore do restaurante. Camila apertava os passos, equilibrando a bandeja com duas taças de vinho tinto, enquanto o coração batia mais rápido do que deveria. Talvez fosse o calor do salão, talvez fosse o fato de ele estar ali — sentado à mesma mesa da noite anterior, como se fosse dono do tempo, do espaço e, de alguma forma, da paz que ela não tinha.

Leonardo Aragon.

Era esse o nome no cartão que ela secretamente havia puxado do bolso do paletó dele enquanto ele atendia uma ligação. Ela não o tinha devolvido. Desde então, pesquisou aquele nome como se buscasse respostas para uma dor antiga.

Mas o que encontrou a confundiu ainda mais: Leonardo Aragon não era um cliente qualquer. Era o CEO da Aragon Enterprises, uma das maiores holdings de tecnologia da Europa. Bilionário. Recluso. E absolutamente perigoso, se estivesse ali por motivos que não eram apenas um jantar casual.

— Deux verres de Saint-Émilion, monsieur, mademoiselle — disse Camila, com seu francês impecável, ao servir o casal da mesa ao lado da dele. Fingiu não ver o olhar dele. Mas o sentiu. Ardendo, queimando, perfurando sua nuca.

Ela se afastou, indo em direção ao balcão. Seu peito subia e descia com raiva. Por que ele voltou? Por que agora?

— Você está pálida, amiga — murmurou Júlia, a colega de trabalho e melhor amiga de Camila. — Aquele homem de novo?

Camila assentiu, os olhos marejando sem motivo aparente.

— Ele sabe meu nome, Júlia. Ontem, ele me chamou de Camila. Eu não disse meu nome a ele.

Júlia franziu a testa.

— Talvez ele tenha ouvido alguém te chamar...

— Ou talvez ele me conheça — respondeu Camila, mais para si do que para a amiga.

Júlia segurou em seu braço.

— Cuidado, Cami. Gente assim nunca aparece por acaso.

Antes que pudessem continuar, o gerente se aproximou, um sorriso forçado no rosto.

— Camila, monsieur Aragon pediu que você o atenda pessoalmente novamente. Disse que pagaria o triplo.

Ela travou.

— Claro — respondeu automaticamente, sem saber de onde vinha tanta coragem.

Ao se aproximar da mesa, Leonardo levantou-se, elegantemente, como se o mundo estivesse em câmera lenta. Seu terno preto parecia ter sido moldado em seu corpo. O cabelo levemente bagunçado era uma contradição sensual à perfeição controlada do resto.

— Camila — disse ele, com aquela voz que parecia veludo em brasa. — Paris parece ainda mais bela esta noite. Ou será você que torna tudo mais... magnético?

Ela não respondeu. Colocou o cardápio à frente dele com firmeza, mantendo-se ereta.

— Qual será sua escolha esta noite?

Ele sorriu. Um sorriso de quem já sabia a resposta.

— Você.

O coração de Camila pulou. Mas seu rosto permaneceu impassível.

— O menu, senhor.

Leonardo riu baixo, erguendo as mãos em rendição.

— Très bien. O prato do dia, com um bom Bourgogne. E, se me permite, gostaria de saber qual sobremesa a senhorita recomenda.

— Nenhuma. Estamos sem sobremesa.

— Uma pena. Estava esperando algo doce ao final da noite.

Ela se virou para sair, quando ele disse:

— Ainda sonha com a noite em que tudo mudou?

Camila congelou.

Virou-se lentamente, os olhos arregalados.

— Como?

Leonardo inclinou-se na cadeira.

— Nada. Apenas... algo nos seus olhos diz que carrega fantasmas. E eu tenho muitos dos meus.

Camila saiu antes que ele dissesse mais. O ar lhe faltava. Seu passado vinha se aproximando, como um trem desgovernado prestes a explodir sua nova vida.

No final do expediente, já era madrugada. Júlia a puxou pela mão, ignorando o cansaço.

— Vem comigo. Um amigo meu tá dando uma festa particular no terraço de um hotel. Só gente rica, mas ele é legal.

Camila hesitou.

— Não tô com cabeça...

— Justamente. Você precisa esquecer aquele homem. Vai, é um rooftop com vista pra Torre Eiffel!

Relutante, Camila aceitou.

O hotel era luxuoso. Camila se sentia deslocada no vestido preto simples que Júlia lhe emprestara, enquanto todos os outros pareciam saídos de editoriais da Vogue. Mas a vista realmente valia a pena.

E então, lá estava ele.

Alexandre Marchand.

Alto, bonito demais para ser confiável, com um copo de uísque numa mão e uma expressão preguiçosa nos olhos claros. Quando viu Júlia, sorriu com um brilho malicioso.

— Voilà! Chegaram as estrelas da noite.

— Você disse que era uma reunião tranquila — reclamou Júlia, rindo.

— E é. Só amigos... ricos, entediados e dispostos a cometer erros.

Camila quase virou as costas. Mas Alexandre estendeu a mão educadamente.

— Alexandre. E você é...?

— Camila.

Ele piscou.

— Belo nome. Combina com mistério. Você sempre tem esse olhar de quem sabe mais do que diz?

— Só quando estou tentando não ser seduzida.

Júlia quase engasgou. Alexandre riu, encantado.

Camila queria se distrair. Queria esquecer Leonardo. Mas enquanto olhava para Alexandre, jurava sentir... algo estranho.

E então, ao virar-se para pegar um drink, o ar lhe faltou.

Leonardo estava ali.

Na festa.

Encostado num dos pilares, um copo na mão e os olhos cravados nela. Como se soubesse exatamente onde ela estaria. Como se tivesse planejado cada passo.

Camila sentiu o chão sumir.

Paris era grande demais para tantos reencontros.

Ou... talvez não.

Talvez o destino fosse mais cruel do que ela imaginava.

E Leonardo, muito mais perigoso do que ela queria acreditar.

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