A chuva tamborilava contra os vidros da janela, como um lembrete insistente de que nem mesmo os muros mais altos eram suficientes para conter o passado. Clara encarava o céu cinzento da janela da cozinha, braços cruzados, enquanto Isadora desenhava sobre a mesa da sala com concentração absoluta.
Ela queria acreditar que tudo não passava de um susto. Que aquele bilhete ameaçador com a foto da filha fora só um blefe. Mas seu instinto dizia outra coisa.
Dizia que ele estava mais perto do que nunca.
O som do interfone interrompeu o silêncio, fazendo seu coração saltar no peito. Correu até o aparelho, hesitante.
— Senhora Clara, é o porteiro. O senhor Dante Montenegro está aqui. Disse que é urgente.
Ela fechou os olhos, o estômago revirando. Respirou fundo.
— Mande subir.
Isadora levantou o olhar, curiosa.
— É o moço bonito?
Clara fingiu um sorriso.
— É. Mas você vai pro seu quarto agora, tá? Fecha a porta e leva seu desenho.
A menina obedeceu sem protestar. Clara sabia que os olhos de Dan