A música vibrava nos alto-falantes enquanto Camila sentia seu mundo girar, mas não era culpa do champanhe. Era o homem parado a poucos metros de distância, observando-a como um predador observa a presa. Leonardo Aragon.
Vestido com elegância escura, ele parecia ter saído de um filme noir: ameaçador, irresistível, e com algo de perigoso no olhar. O sorriso dele era calmo, quase irônico, como se já soubesse o que ela faria. Como se soubesse que ela não conseguiria simplesmente virar as costas. Camila inspirou fundo. Ela não fugiria. Caminhou até ele, ignorando os olhares curiosos ao redor. As risadas, os brindes e a música tornaram-se um ruído de fundo. — Está me seguindo agora? — perguntou, cruzando os braços. Leonardo ergueu uma sobrancelha. — Eu poderia perguntar o mesmo. — Você me encontrou aqui por acaso? Ele sorriu, lento. — Em Paris, os encontros nunca são acaso. São escolhas. Ou armadilhas. Camila sentiu um arrepio percorrer sua espinha. — O que você quer de mim? — Ainda estou descobrindo. Antes que pudesse responder, uma voz masculina os interrompeu: — Tudo bem por aqui? Era Alexandre, que se aproximava com dois copos e uma expressão que mesclava charme e ciúme mal disfarçado. Seus olhos alternaram de Camila para Leonardo com desconfiança. — Eu estava apenas conversando com a Camila — respondeu Leonardo, sem perder o tom calmo. — E você é? — Alexandre Marchand. E você? Leonardo hesitou por uma fração de segundo. — Leo. Camila sentiu um nó no estômago. Ele não usou o sobrenome. Estava escondendo quem era. Mas por quê? Alexandre entregou um dos copos a Camila e olhou firme para Leonardo. — Bom... Leo, a Camila está comigo esta noite. Leonardo não se abalou. Apenas inclinou a cabeça levemente. — Que sorte a sua. Camila interveio. — Eu preciso de ar. Com licença. Saiu antes que os dois homens começassem uma disputa em público. Encostou-se em um dos pilares do terraço, tentando controlar a respiração. O céu sobre Paris estava limpo, e a Torre Eiffel brilhava à distância como um lembrete cruel de que tudo ali parecia um sonho. Ou um pesadelo. — Ele está te perseguindo? — A voz de Júlia surgiu ao lado. — Eu não sei. Ele está em todo lugar. Ele sabe coisas sobre mim que não deveria saber. — Você acha que ele é do seu passado? — Eu não sei, Júlia! — Camila respondeu, exasperada. — Mas tem alguma coisa errada com esse homem. Ele finge que me conheceu agora, mas fala como se já soubesse da minha vida inteira. Júlia franziu o cenho. — Talvez ele saiba. Ou talvez ele só seja bom em... quebrar pessoas. Camila olhou para a amiga, alarmada. — Como assim? — Você já viu esse tipo de homem antes. Controlador, misterioso, manipulador. Eles sabem mexer com a mente das mulheres até que elas não saibam mais quem são. — Eu não sou fraca. — Não. Mas está vulnerável. Antes que pudessem continuar a conversa, o som de uma moto rasgou o ar noturno. Um novo convidado chegava, tirando o capacete com um sorriso debochado no rosto. Os cabelos castanho-claros bagunçados pelo vento, os olhos verdes escondendo uma ironia constante. Enzo Ricci. — A festa só começa quando eu chego, darlings — disse ele, erguendo os braços como se fosse uma estrela do rock. Alguns convidados o aplaudiram. Outros reviraram os olhos. Enzo era herdeiro de uma fortuna italiana, mas preferia viver como se fosse pobre por escolha. Rebelde, debochado, envolvido em escândalos... e irresistível. Sempre que aparecia, algo acontecia. Ele caminhou direto até o grupo onde estavam Camila, Júlia, Leonardo e Alexandre. — Que reunião interessante temos aqui — disse, servindo-se de uísque. — O enigmático Leo, o elegante Marchand, e as duas deusas da noite. Seus olhos cravaram em Camila. — Você é nova. E absolutamente fascinante. Ela riu, apesar de si mesma. — Camila. — Enzo — respondeu ele, segurando a mão dela por tempo demais. — Espero que não esteja comprometida. — Depende. Está perguntando por causa de você? Ele sorriu, satisfeito com a resposta. Leonardo observava tudo, em silêncio. Mas seu olhar era tão afiado quanto uma lâmina prestes a cortar. Havia tensão ali. Algo mais profundo do que ciúmes. Parecia... insegurança, algo que não combinava com ele. Alexandre, por outro lado, também não gostava de dividir a atenção de Camila. — Enzo, você chegou tarde para isso. Camila está comigo. — Engraçado, pensei que ela estivesse sozinha. — Talvez porque você só vê o que quer ver — rebateu Leonardo, por fim. O silêncio caiu entre os três homens. Júlia puxou Camila de lado. — Você percebeu, né? — O quê? — Está sendo puxada para o meio de três homens perigosos. E nenhum deles parece disposto a ceder. Camila respirou fundo. Estava. E o pior era que, no fundo, sentia que o mais perigoso de todos... era o que ela menos entendia: Leonardo. Mais tarde naquela noite, já em casa, Camila entrou no quarto pequeno de seu apartamento alugado e trancou a porta. O celular vibrou. Mensagem desconhecida. “Você está linda quando tenta fugir de si mesma. – L.” Ela largou o aparelho sobre a cama, o coração disparado. Como ele conseguira seu número? O que ele queria realmente? Por que, apesar do medo... ela queria ver aquela mensagem de novo?